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UFPR integra laboratórios em Centro de Ciências Forenses, iniciativa para consolidar área no Brasil

Identificação de substâncias ilícitas, análises ambientais, investigação de ataques cibernéticos e de microvestígios em cenas de crimes. Estes são alguns exemplos de como as ciências forenses contribuem para a celeridade das ações judiciais, ao combate do crime organizado e à proteção do consumidor.    

Com a finalidade de atuar de forma mais centrada na área e formalizar parcerias com a Polícia Científica do Paraná e com a Polícia Federal, o Setor de Ciências Exatas da UFPR criou o Centro de Ciências Forenses (CCF). A iniciativa reúne os trabalhos do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), do Departamento de Informática; da Central Analítica do Departamento de Química (CA-DQUI); e do Laboratório de Análises de Minerais e Rochas (LAMIR), do Departamento de Geologia. 

As três unidades já atuam em parceria com as polícias, integrando os conhecimentos sobre as ciências forenses, conforme explica o professor Marcos Sunye, diretor do Setor de Exatas. “Os experimentos desta área, além de seguirem o método científico, têm duas características: não são triviais, tanto no raciocínio, quanto no procedimento, e são interdisciplinares”. 

O Centro de Ciência Forense da UFPR começa com a integração do C3SL, do LAMIR e da Central Analítica do DQUI

Análises Mineralógicas 

O vínculo da Polícia Federal com a UFPR começou em 2010, com peritos geólogos e pesquisadores do LAMIR na área da geoquímica. Atualmente, o laboratório realiza análises mineralógicas voltadas à emissão de laudos, que auxiliam investigações da polícia relacionadas a desvio de cargas. 

Um artigo publicado recentemente na revista Geological Society é um exemplo do resultado alcançado pela equipe. O estudo envolveu a compra de um lote de lingote de zinco da China. Quando a encomenda chegou ao Brasil, a polícia inspecionou a carga e encontrou sacos de areia no lugar da liga metálica, utilizada em materiais de construção e na indústria farmacêutica e química.  

Para descobrir o paradeiro do material, foram enviadas amostras da areia para análise na UFPR. Assim, foi possível verificar que a troca ocorreu antes da carga chegar ao Brasil, permitindo a solução para o crime. “Isso reforça a colaboração entre a PF e nossos especialistas. Não é uma prestação de serviço, é uma parceria científica”, enfatiza a professora Anelize Bahniuk Rumbelspergervice-coordenadora do LAMIR.  

Química Forense 

A interação entre as Polícias Federal e Científica com a Central Analítica do Departamento de Química ocorre desde 2014, através de análises químicas pela técnica de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), lideradas pelo professor Anderson Barisson. No âmbito da Química Forense, a RMN pode contribuir para a identificação de drogas a na verificação de adulterações e fraudes em defesa ao consumidor.   

A técnica de Cromatografia a Líquido e a Gás identifica substâncias ilícitas presentes em amostras como medicamentos e produtos de higiene pessoal, analisa contaminantes em águas pluviais e esgoto, metabólitos em casos suspeitos de envenenamento e Novas Substâncias Psicoativas (NSP) que chegam ao mercado diariamente. “A RMN é uma das mais poderosas ferramentas de investigação científica. Possui grande vantagem de fornecer um grande número de informações sobre a amostra em investigação de forma simples e rápida a partir de um único experimento, obtidas com o mínimo preparo de amostra”, explica a professora Caroline Da Ros Montes D’Oca, atual coordenadora da Central Analítica. 

No contexto atual da pandemia de Covid-19, a técnica de RMN está sendo utilizada para a determinação de graduação alcoólica em amostras de álcool gel apreendidas, de forma inteiramente gratuita e aberta a toda comunidade. 

Na visão de Barisson e de Caroline D’Oca, a atuação conjunta entre a UFPR, através do Centro de Ciência Forense e a Secretaria de Segurança Pública permitirá a ampliação das capacidades analíticas da polícia, por meio dos laboratórios integrantes do CCF, e reforça a atuação da universidade como instituição pública, a serviço do bem-estar comum e da sociedade em geral. 

Ciência Forense Computacional 

No último ano, o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) abriu uma nova linha de pesquisa em ciência forense computacional aplicada. Isso foi possível devido à procura de peritos da área forense-computacional para realizar estudos acadêmicos.  

Essa área de pesquisa contribui para a elucidação de crimes cibernéticos de diversas formas. Como os equipamentos eletrônicos são atualizados constantemente, sempre há a necessidade de se descobrir novos modos de se decifrar senhas e acessar arquivos, sem que haja contaminação das cenas de crime. O pesquisador do C3SL, professor André Grégio, explica: “Do mesmo modo que em um crime comum não se pode deixar as digitais nos objetos, temos que impedir que um arquivo seja tocado. Em um computador ou celular, se eu acessar qualquer arquivo, eu modifico a data de alteração e aí pode se perder a prova”. 

Outra função é o desenvolvimento de métodos de produção de provas. Os pesquisadores procuram estabelecer uma linha do tempo de um crime, para descobrir quando uma informação foi modificada. O processo computacional envolvido deve ser replicado por todos os peritos, inclusive os de defesa. É a chamada garantia da cadeia de custódia, que vê os dados de evidência sem que nenhum elemento digital seja corrompido.   

O C3SL trabalha há mais tempo com pesquisas que podem auxiliar o processo forense, como a criação de bases de dados e repositórios científicos digitais, workflow científico e mineração de dados relacionados a outras áreas do conhecimento, como análises farmacológicas, bioquímicas e geológicas. Com a implantação do CCF, o grupo de pesquisa contribuirá também no armazenamento, processamento de dados, segurança no acesso, descoberta de padrões novos, visualização de grandes massas de dados (big data) e infraestrutura. 

As ciências forenses aliam conhecimentos de várias áreas, como a biologia, informática, química e geologia. Foto – Samira Chami Neves

 

Pesquisas interdisciplinares 

Para otimizar a interdisciplinaridade, os laboratórios que compõem o CCF serão integrados, com o aproveitamento de estruturas já existentes, o que pode facilitar obtenção de recursos.  

De acordo com o diretor do Setor de Exatas, a adesão destas unidades a um centro de estudos integrará as atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação tecnológica em áreas especializadas da ciência forense. Está em estudo também a criação de um Programa de Pós-Graduação em Ciências Forenses, inédito no país. “A área forense, por demandar problemas concretos, imediatos e complexos, ajuda a gente a dar início ao processo, que é irreversível. É o primeiro passo para cristalizar na universidade centros interdisciplinares”, revela Sunye 

Quaisquer laboratórios que lidem com ciências forenses em outros setores da Universidade podem participar do projeto. Para isso, basta entrar em contato com a Direção do Setor de Exatas. O processo de eleição de coordenadores e o estabelecimento do comitê gestor do Centro de Ciência Forense está em andamento, amparado pela Resolução 31/19-COPLAD. 

Por João Cubas

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