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UFPR forma primeira mestre que passou por curso preparatório de pós para docentes de comunidade quilombola

Vanessa Gonçalves da Rocha foi a primeira pesquisadora a defender uma dissertação depois de participar da Turma Quilombola do  Curso de Formação Pré-Acadêmica Afirmação na Pós UFPR, iniciativa que busca preparar públicos específicos para mestrado e doutorado. A professora apresentou trabalho sobre a constituição da docência para educação escolar no Colégio Estadual Quilombola Diogo Ramos. A escola fica na comunidade João Surá, onde a pesquisadora é docente e o projeto foi implementado.

Comunidade Quilombola João Surá no Vale do Ribeira. Fotos: Samira Chami Neves/Sucom-UFPR

Segundo Vanessa, a pesquisa mostrou a importância da construção conjunta do fazer pedagógico na comunidade, tendo sido fundamental sua experiência como professora. “Tenho aprendido cotidianamente como a relação entre comunidade e escola é essencial na compreensão do fazer pedagógico a ser realizado no colégio, pois é no território, com as histórias das pessoas, nas lutas, na memória coletiva e nas vivências quilombolas que se planeja e executa a educação escolar no local”.

Os resultados da pesquisa mostraram a importância de unir a perspectiva do cotidiano com um olhar investigativo sobre a realidade, próprio da ciência. Vanessa explica que foi evidenciado detalhes sobre as necessidades presentes na escola que já eram sentidas anteriormente.

“Tínhamos sempre uma discussão a respeito da falta de cursos ofertados pela Secretaria de Educação para os educadores e educadoras de nossa escola, mas não havíamos analisado que, além desta estrutura que a secretaria deve disponibilizar, há outros componentes que permeiam a rotina de uma escola em território quilombola e são constituintes do que nós, na pesquisa, denominamos Docência Quilombola”.

Uma das principais contribuições da pesquisa é oferecer subsídios para refletir sobre a educação nessas comunidades, que até a pouco tempo não tinha diretrizes específicas. A pesquisadora destaca nesse processo o documento elaborado a pouco tempo que traz essas orientações.

“As comunidades quilombolas possuem identidades diversas. As diretrizes curriculares nacionais foram discutidas nesta perspectiva e resultou em um documento que abrange o respeito às especificidades culturais e identitárias de cada comunidade. Soma-se a isso o fato de que ao elaborar diretrizes específicas [a educação quilombola] passa a ser respeitada e valorizada por meio das práticas pedagógicas que entendem o sujeito quilombola como protagonista da educação escolar que recebe”, diz.

O curso

Comunidade João Surá - Remanescente de Quilombo (foto: Samira Neves)
Comunidade João Surá – Remanescente de Quilombo

O curso preparatório teve o objetivo de oferecer a oportunidade para que públicos diversos tenham acesso à pós-graduação, além de buscar trazer à universidade um perfil de pesquisador com a experiência peculiar de viver a rotina da comunidade, valorizando o saber comunitário. A iniciativa é um projeto do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da UFPR, que teve continuidade mais recentemente pela atuação da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad) (conheça neste link).

Para Vanessa, “durante muito tempo o conhecimento produzido pelos sujeitos das comunidades quilombolas foi inferiorizado no meio acadêmico. A partir do momento que uma instituição como a UFPR une-se à comunidade em uma parceria para valorizar os saberes ali produzidos, bem como para proporcionar o acesso ao ensino superior e preparo para a pós-graduação, outras experiências se constituem, tanto no território como na universidade. Os dois espaços ganham. A comunidade fortalece a formação de pessoas comprometidas com suas lutas, com a valorização de sua vivência e resistências, e, a universidade pública se enriquece com novos conhecimentos e cumpre seu papel social, que é produzir conhecimento em perspectiva plural”.

Durante um ano, em encontram mensais, os professores da comunidade tiveram a oportunidade de aprender um pouco sobre a estrutura da pós-graduação e de como elaborar um projeto de pesquisa, as atividades foram coordenadas pelas professoras Carolina dos Anjos e Lucimar Rosa Dias.

Segundo Vanessa, o comprometimento de ambas com práticas educativas que buscam combater as desigualdades sociais e seu engajamento com a luta antirracista foi um diferencial para o sucesso da iniciativa, destacando ainda a experiência que elas detêm como pesquisadoras da área educacional no contexto quilombola.

A nova perspectiva que se abre ao permitir que novos atores entrem para o mundo da pesquisa científica é outro destaque para a professora. “Ocorre uma mudança de papéis significativa no que tange a produção da ciência ao se modificar o eixo de quem produz. O sujeito que muitas vezes ocupou o lugar de investigado, passa a ser o sujeito que investiga”, explica.

Como professora, Vanessa iniciou seu trabalho na João Surá em 2010, trabalhando na Educação de Jovens e Adultos (EJA), a maioria de seus alunos eram pessoas que não tiveram a oportunidade de terminar os anos finais do ensino fundamental. Ela conta que foi muito bem recebida pela comunidade e que o fato de continuar compondo o corpo docente da escola local é um indicativo disso, já que a escolha dos professores é feita sob anuência dos moradores.

Cotidiano da pesquisa

Comunidade João Surá - Remanescente de Quilombo (foto: Samira Neves)
Comunidade João Surá – Remanescente de Quilombo

O mestrado trouxe uma nova rotina para a professora , que precisou cursar as disciplinas do curso em Curitiba, três dias por semana e se adequar às demandas do curso de pós-graduação, que em geral tem a maior parte da carga horária fora da sala de aula. Ela destacou o apoio que teve do grupo de estudos ErêYá e da sua orientadora Lucimar Dias.

“Essa rede de apoio foi muito importante para que eu conseguisse manter-me na pós-graduação. O acolhimento nas disciplinas também contribuiu para pensar minha pesquisa e planejar o uso de metodologias que para mim eram ainda desconhecidas”, revelou.

“O mestrado na UFPR me proporcionou experiências que permitiram meu crescimento intelectual e humano, pois a linha de pesquisa Diversidade, Diferença e Desigualdade Social do PPGE [Programa de Pós-graduação em Educação] apresenta pesquisas, debates, discussões, estudos e práticas em favor do combate à desigualdade social, valorizando a diferença e a diversidade que compõe a sociedade”, completou a pesquisadora.

A comunidade

A comunidade João Surá está localizada no município de Adrianópolis, um dos mais distantes da capital que faz parte da Região Metropolitana de Curitiba, fazendo divisa com o estado de São Paulo. Formou-se há cerca de 200 anos, com negros que migraram para escapar da escravização imposta em uma mina de ouro no estado vizinho. Sua principal atividade é a agricultura, com uma produção muito diversificada voltada principalmente ao consumo de alimentos produzidos pelos moradores. Foi um dos primeiros remanescentes de quilombo do Paraná a iniciar o processo de reconhecimento, concluído em 2003.

A relação da UFPR com a comunidade já é de longa data, a instituição ofereceu o curso Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Ciências da Natureza (Lecampo), do Setor Litoral, com aulas voltadas a professores do local que ainda não tinham graduação – por meio de um projeto do Ministério da Educação que buscava formar professores em contextos rurais sem acesso à educação superior.

Outra importante ação da universidade na João Surá, que vem se mantendo há vários anos, é o apoio técnico à produção agrícola local, por meio da ação extensionista da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) – as fotos dessa matéria são fruto de uma visita da ITCP à comunidade. A troca de conhecimentos entre a incubadora e a comunidade traz a oportunidade para diversos profissionais em formação na UFPR de ter contato com práticas da agricultura tradicional dos quilombos e ajuda a comunidade com soluções técnicas em sua principal atividade econômica.

Acesse o curso de pré-pós da UFPR neste link

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