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Tese sobre tradições alimentares polonesas recebe menção honrosa no I Prêmio da Associação Brasileira de História Oral

Uma tese de doutorado sobre a transmissão das tradições alimentares polonesas no Centro-Sul do Paraná, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da UFPR, recebeu Menção Honrosa no I Prêmio da Associação Brasileira de História Oral. A pesquisa é de autoria de Neli Maria Teleginski, que se dedica a pesquisar a relevância da comida como documento histórico, patrimônio e linguagem cultural das sociedades.

O trabalho – intitulado “Sensibilidades na cozinha: a transmissão das tradições alimentares entre descendentes de imigrantes poloneses no centro sul do Paraná” – foi produzido em 2016, a partir de entrevistas com descendentes de poloneses residentes nos municípios de Irati, Mallet e Prudentópolis, no interior do Paraná. Os entrevistados relataram suas memórias e práticas alimentares preservadas em cozinhas, quintais, hortas, roças e feiras, e também nas festas típicas e nas paróquias.

Ao comparar as tradições antigas da culinária polonesa com a atualidade, a pesquisadora descobriu que muitos dos saberes e alimentos artesanais estão perdendo espaço para o consumo de produtos industrializados. “Um exemplo disso são os fermentos naturais que as ‘babas’ ou ‘bapkas’ (avós, em polonês) utilizavam para fazer pães, broas e ‘cuques’ de forno a lenha, e que foram substituídos por fermentos industrializados”, conta Neli.

O pierogue, massa cozida e recheada que é uma das heranças eslavas mantidas pelos descendentes no Paraná. Fotos: acervo pessoal da pesquisadora

Outra mudança observada pela pesquisadora foi a da produção do requeijão de leite integral que, de acordo com a pesquisadora, tem sido substituído por ricota industrializada nos laticínios, com o mesmo leite da bacia leiteira da região. A ricota passou a ser utilizada na confecção do ‘pierogue’ (massa cozida e recheada em formato de meia lua conhecida como ‘perohê’ na língua ucraniana) e das tortas doces, que antes levavam apenas ingredientes caseiros.

“É importante ressaltar, por outro lado, que muitas pessoas, sobretudo os descendentes, ainda preservam com grande esforço os conhecimentos alimentares dos eslavos”, afirma Neli. Um lócus importante desta preservação, de acordo com ela, está nas feiras de produtores locais, onde muitos produtos artesanais e da tradição alimentar eslava – como as broas, os embutidos, fermentados, geleias e conservas – continuam sendo comercializados.

“Há também muitas mulheres da região que complementam a renda de suas famílias comercializando os ‘pierogues’ congelados nos supermercados ou em empresas que se especializam no comércio de massas artesanais”, destaca.

Da família à pesquisa

Neli, que cresceu e viveu a maior parte da vida na cidade de Irati, junto a uma família inteira de agricultores dedicados a plantar, criar animais e cozinhar, diz que seu trabalho busca valorizar os cultivadores da região do segundo planalto central paranaense. “Eu vejo que a comida de todos os imigrantes do Paraná conta uma história, que deve continuar sendo contada nas comunidades, nas escolas e nas universidades, gerando conhecimento e iniciativas em todos os setores que lidam com a produção, consumo e circulação de alimentos”, comenta.

Ao analisar as oralidades dos descendentes de poloneses, a pesquisadora produziu um caminho de pesquisa que, segundo ela, pode ser percorrido por outros pesquisadores, abordando outras regiões. “Pesquisar a comida e o uso das fontes orais de transmissão das tradições alimentares é um caminho para perceber a diversidade cultural e a história da alimentação, do gosto, do comer e dos sentidos atribuídos a estas práticas no tempo”, explica.

Neli Maria Teleginski (à direita), durante a cerimônia de entrega do prêmio, em maio.

Para Neli, ter recebido a Menção Honrosa em um evento que valoriza a história oral, especialmente por uma pesquisa que exaltou o papel da transmissão e repetição de receitas entre as mulheres, é uma grande honra. “Comer, rezar e falar a língua dos antepassados tem sido a forma utilizada pelos descendentes de eslavos para manter a memória do grupo étnico viva. E também como forma de expressar seus sentimentos, no amor com que plantam, colhem, cozinham e celebram seus alimentos e suas tradições do corpo e da alma”.

Neli destaca que a universidade, em particular o Programa de Pós-Graduação em História, teve um papel fundamental na construção do seu estudo. “Fui influenciada pelo saudoso professor Carlos Roberto Antunes dos Santos, que foi construtor do grupo de pesquisas em História e Cultura da Alimentação nos anos 1990”, relembra.

Antes de iniciar a pesquisa, Neli também escreveu um livro para a dissertação de mestrado sob a orientação do professor Antunes intitulado “Os dois lados do balcão: armazéns, bodegas e cotidiano em Irati-PR (1907-1970)”. Na publicação, a pesquisadora disserta sobre comida, mas ainda conta diversas outras histórias vividas por comerciantes e fregueses nas ainda presentes bodegas da região, que, além de compras, eram também espaços de socialização. O livro já está disponível para compra no site da Alameda Editorial, da Livraria Cultura e da Amazon. Pode ser adquirido também através do e-mail nteleginski@yahoo.com.br.

Por Valsui Junior

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