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FEDERAL DO PARANÁ

Presença do fungo Phyllosticta citricarpa na Itália e Portugal pode ajudar a derrubar barreiras sanitárias europeias para citros brasileiros

Um estudo realizado pela professora Chirlei Glienke, professora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná, e pesquisadores da Holanda, China e África do Sul identificou exemplares do fungo Phyllosticta citricarpa em folhas caídas em pomares de citros (plantas do gênero Citrus representado, na maioria, por laranjas, tangerinas e limões) na Europa. O trabalho, publicado na revista Studies in Mycology no último mês de outubro, revela que esse fungo causa lesões na casca dos frutos e o surgimento de uma doença chamada mancha preta ou pinta preta, que compromete a exportação dos frutos brasileiros para a Europa. Barreiras fitossanitárias previnem a entrada do fungo causador doença no continente europeu.

Chirlei explica que há muitos anos tanto o Brasil quanto a África do Sul tentam mostrar que não havia problemas na entrada de frutos contaminados na Europa, pois a doença não se manifestaria na Espanha ou Itália – países produtores de citros na Europa – em função da falta de condições climáticas adequadas para tal. Além disso, frutos com a mancha preta não causam prejuízos para a saúde do consumidor. “Você pode comprar, descascar e consumir, havendo o problema apenas visual e econômico. Com a pinta preta, a casca fica menos vistosa e menos atrativa”, resume a pesquisadora.

Foto de fruto com a mancha preta – Fundecitrus

A mancha preta começou a ter impacto na produção brasileira em meados dos anos 1990, em pomares do estado de São Paulo. Em pouco tempo, ela avançou para o país todo e foi identificada em pomares dos Estados Unidos em 2010. Como os frutos que vão para a Europa levam até 20 dias para chegar ao destino, existe a possibilidade de a doença se manifestar durante o transporte, o que acarreta prejuízos para os produtores. “Apesar de o fruto ir refrigerado até lá, os sintomas que não existiam durante a colheita podem aparecer, pois à medida que o fruto amadurece, as pintas surgem. Nestes casos, a carga toda é retida”, observa Chirlei.

Durante a pesquisa, coordenada pelo Westerdijk Fungal Biodiversity Institute, foi realizado o mapeamento das espécies de fungo Phyllosticta existentes em plantas de citros na Europa. Com o estudo, ficou comprovado que apesar de a doença não estar presente em território europeu, o fungo P. citricarpa está presente em folhas de citros caídas na Itália, Malta e Portugal. A professora explica que a introdução desse fungo parece ter ocorrido em dois momentos independentes – uma introdução na Itália e Malta, e outra introdução em Portugal – há bastante tempo e, embora presente na Europa, não encontrou condições climáticas favoráveis para seu desenvolvimento. “Do ponto de vista prático isso significa que não haveria problemas se nossos frutos com os sintomas de mancha preta entrassem na Europa, pois não espalhariam a doença naquele continente”.

De acordo com a pesquisadora, o próximo passo é aguardar que as barreiras caiam para oportunizar novos negócios aos produtores brasileiros. Para tanto, órgãos de controle brasileiros, como o Ministério da Agricultura devem pressionar nesse sentido. “O fungo Phyllosticta citricarpa ainda figura como praga quarentenária A1 (ausente na Europa) na lista da European and Mediterranean Plant Protection Organization (EPPO) e, portanto, as barreiras fitossanitárias ainda estão mantidas. A divulgação de pesquisas como esta pode facilitar uma tomada de decisão em relação a isso”, esclarece.

Professora da UFPR há 20 anos, Chirlei trabalha também em pesquisas com microrganismos endofíticos – que convivem com a planta, mas que causam mais benefícios que malefícios. Com enfoque no ponto de vista genético, a pesquisadora busca o controle biológico das pragas, com a interação entre organismos, que evitam que as pragas afetem plantas de citros sem o uso excessivo de agentes químicos. Além disso, o entendimento das relações microrganimos-planta pode auxiliar no controle de doenças. “Eu trabalho do ponto de vista genético para ver como esse e outros fungos (endofíticos e também fitopatógenos) interagem com a planta. Se alguma empresa quer desenvolver um novo fungicida, por exemplo, nossas pesquisas podem auxiliar na descoberta de novos alvos para controle. No fim, buscamos que o controle ocorra minimizando prejuízos aos frutos e ao meio ambiente”, ressalta.

Por João Cubas

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