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FEDERAL DO PARANÁ

Prae substitui lógica de plantões por modelo de acolhimento a estudantes que permite monitoramento dos casos

Uma pró-reitoria que tem a missão de auxiliar financeiramente estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica e promover o acolhimento social,  pedagógico e psicológico daqueles que procuraram ajuda. Criada há dez anos, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) responde às demandas de inclusão e permanência dos alunos da UFPR com equipes administrativa e multiprofissional – composta por pedagogos, psicólogos e assistentes sociais.

De acordo com a chefe da Unidade de Apoio Psicossocial (Uaps) da Prae, Lauren Machado Pinto, em modelo anteriormente adotado, a equipe de psicólogos atuava com uma metodologia direcionada prioritariamente à relação entre o desempenho acadêmico e a permanência na Universidade. A mudança no perfil dos estudantes – a partir das políticas de inclusão adotadas pelas universidades brasileiras nos últimos anos – inspirou a criação de um formato diferente para atender à nova demanda.

A reestruturação substituiu a lógica de plantões pela de acolhimentos e tem como base o Plano de Acompanhamento Singular (PAS), que possibilita encaminhamentos posteriores. O formulário piloto começou a ser utilizado em outubro de 2019. “Plantão remete a pronto-socorro. Chego, resolvem o meu problema e vou embora. E isso a gente tem verificado que não é possível dentro das demandas dos estudantes. Tanto pelo que eles trazem, que é muito complexo, como pela necessidade de se sentirem acolhidos. A Prae é a porta de entrada deles – tanto para atendimento quanto para o acesso a diferentes serviços dentro e fora da Universidade”, explica Lauren.

O ambiente – com piso de madeira, plantas, luz natural e ar fresco – convida os alunos que procuram a equipe da Prae a desacelerarem e se sentirem acolhidos. Fotos: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

Para receber atendimento psicológico, não é necessário marcar hora, apenas chegar em um dos horários definidos pela equipe. A agenda semanal está disponível aqui. O estudante que não tem disponibilidade para ser atendido nos horários disponibilizados pela Prae pode entrar em contato pelo psicoprae@ufpr.br para fazer o agendamento.

“Verificamos que temos, hoje, uma grande inclusão de subjetividades que são muito diversas. E o próprio processo de expansão da UFPR criou, depois do Reuni [Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais], lançado em 2007, toda essa necessidade”, contextualiza a chefe da Uaps.

O acolhimento parte da escuta qualificada para identificar a questão central e as necessidades do aluno. “Há duas possibilidades: o acolhimento se esgotar em si mesmo – por exemplo, o estudante tem uma dúvida, o psicólogo conversa e a dúvida é sanada – ou, em 90% dos casos, o estudante precisa de outras ações que venham a contemplar suas necessidades. A partir disso, a gente tem o que chamamos de PAS”, informa a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Maria Rita de Assis César.

Diante da multiplicidade de casos, a equipe trabalha na sistematização de critérios para inserção imediata do estudante em atendimento, para encaminhamento de espera ou para direcionamento de ações complementares ao acolhimento psicológico.

Plano de Acompanhamento Singular (PAS)

O PAS é o documento no qual a equipe de psicólogos da Prae faz os registros e os respectivos encaminhamentos do atendimento. Se a escuta soluciona a queixa apresentada pelo estudante, o profissional faz o relato no formulário – que contém três páginas -, assina e finaliza o caso. Se houver a necessidade de conciliar outras estratégias, é definido um plano de objetivos e metas em que são estabelecidas ações e intervenções. 

O psicólogo pode estabelecer a frequência dos encontros e a quantidade; se o atendimento deve ser feito de forma individual ou em grupo; e fazer apontamentos importantes. A participação em oficinas e rodas de conversa promovidas pela equipe da Prae são exemplos de encaminhamento. “A gente tem um grupo que é para lidar com pânico na hora de apresentar trabalhos. Uma das psicólogas promove essa oficina”, ilustra a pró-reitora. “Temos projeto com os calouros – caso não se adaptem à universidade. Há, também, a roda de conversa sobre os cursos”, complementa Lauren.

Há a possibilidade de encaminhamentos internos na pró-reitoria se a questão detectada puder ser acolhida pelas equipes pedagógica, de serviço social ou administrativa. “Um exemplo: o estudante está num sofrimento enorme porque o auxílio foi suspenso e ele não sabe como resolver. A gente resolve na Prae”, pontua Maria Rita.

Não é necessário marcar horário. Os acolhimentos psicológicos são realizados de segunda a sexta-feira, de acordo com grade de horários disponibilizada no site da Prae.

No campo “encaminhamentos externos à Prae, na UFPR” do PAS, se avaliar necessário, aquele que acolhe pode direcionar o aluno ao Centro de Atenção à Saúde 3 (Casa 3) – unidade ambulatorial do sistema de atendimento à saúde oferecido à comunidade universitária -, ao Casa 4 – atendimento psiquiátrico – ou à Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad). A proposta da inserção dessas unidades como alternativas de encaminhamentos no formulário é permitir ao psicólogo observar a saúde integral do estudante.

“Hoje temos uma metodologia de encaminhamento para o Casa 4 via documental, com profissional de referência, que é quem está fazendo o encaminhamento. Está pactuado com a coordenação do sistema Casa. Isso ocorre de modo a garantir a interlocução entre os serviços, bem como a promoção de um atendimento integralizado”, destaca Lauren.

“A Sipad promove o acolhimento de populações específicas: violência contra mulher, racismo, xenofobia. É um acolhimento que a gente vem trabalhando juntos. Fazemos um encaminhamento específico via SEI [Sistema Eletrônico de Informações] da UFPR, para que tenhamos controle desses processos. Podemos detectar que um determinado curso tem processos recorrentes de racismo, por exemplo, e acionamos a Sipad para desenvolver uma política de prevenção de racismo naquele curso, para aquela população”, afirma a pró-reitora. 

Traçar estratégias para permanência dos estudantes é uma das ações que podem ser desenvolvidas. Há, ainda, a possibilidade de planejamento de intervenção em parceria com as coordenações de cursos e com tutores do Programa de Orientação Acadêmica (POA).

A equipe de psicólogos da Prae faz os registros e os respectivos encaminhamentos do atendimento no PAS. O formulário piloto começou a ser utilizado em outubro de 2019.

Em alguns casos, são feitos encaminhamentos externos para a rede pública de saúde. “É o profissional do serviço social que vai entender a situação desse estudante para avaliar se encaminha à rede pública ou se pode indicar que vá para uma clínica de baixo custo. Às vezes, também vai fazer um trabalho estratégico com a família desse estudante, para que ela faça esse acolhimento e marque um psicólogo”, detalha a gestora da Prae.

As diretrizes de encaminhamento externo que estão sendo construídas compreendem o Sistema Único de Saúde (SUS) – com destaque à Atenção Primária à Saúde (APS) e a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) – e o Sistema Único de Assistência Social (Suas).

É possível, por exemplo, que o estudante faça acompanhamento psicológico na UFPR, psiquiátrico na rede pública e esteja envolvido em ações estratégicas planejadas pela equipe da Prae – que acompanha todo o percurso do aluno.

No formulário, há espaço para relato do acolhimento, análise observacional e reavaliação, quando couber. “A partir do PAS, a gente percebe um número maior de estudantes chegando na pró-reitoria e esses encaminhamentos para a equipe sendo feitos de maneira mais ordenada. Acredito que a partir do segundo semestre de 2020 teremos uma boa análise dos processos”, prevê Maria Rita.

Auxílios para quem precisa

A UFPR oferece a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica auxílio permanência no valor de R$ 400,00, auxílio refeição, que prevê gratuidade nos restaurantes universitários, auxílio moradia de R$ 275,00 e, ainda, o auxílio creche de R$ 200,00 para as estudantes mães. 

“A gente atinge quase 15% dos estudantes da Universidade, contando todos os campi. São estudantes que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que são contemplados pelos auxílios. Se a gente analisar o perfil dos alunos, não só dos que são contemplados, mas daqueles que a gente coloca numa lista de espera porque têm o perfil, essa porcentagem ainda aumenta”, contabiliza a pró-reitora. 

Os auxílios são oferecidos por meio do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), na UFPR chamado Programa de Benefícios Econômicos para Manutenção (Probem). A resolução nº 31 de 2019 do Conselho de Planejamento e Administração (Coplad) regulamenta o Probem aos estudantes de graduação e ensino profissionalizante. A normativa da UFPR é anterior ao Pnaes e está em fase final de reformulação. A previsão é de que seja submetida à avaliação do Conselho no primeiro semestre de 2020.

A diretriz estabelece o bom aproveitamento das disciplinas como contrapartida para os estudantes que recebem auxílios. Mas o critério nem sempre foi esse. Havia, anteriormente, o entendimento de que a compensação deveria se dar com a participação dos alunos em projetos. A compreensão mudou não apenas para a UFPR, mas para todas as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) e para o Fórum de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace). Com a nova dinâmica, cada instituição passou a ter autonomia para construir sua forma de gerenciar a assistência estudantil. Esse movimento ocorreu entre 2008 e 2010, observa Maria Rita.

Conforme a resolução da UFPR, o estudante precisa ter aproveitamento mínimo de 75% ou estar em acompanhamento para continuar a receber os recursos do Pnaes. A avaliação é feita pela equipe pedagógica da Prae. O coordenador de Assistência Estudantil, Fernando Surek Leal, filtra, da planilha gerada pelo sistema de auxílios da Prae – criado em 2018 -, o índice de aproveitamento dos estudantes em relação às disciplinas. 

O dado é apurado a partir da tabulação de aprovações e reprovações e, caso o estudante não tenha concluído com sucesso uma ou mais matérias, a equipe verifica se isso ocorreu por nota ou frequência. O levantamento é encaminhado às unidades de pedagogia de Curitiba e dos Campi Avançados para que os profissionais possam fazer o acompanhamento dos estudantes que estão com aproveitamento abaixo do estabelecido na normativa.

A Prae está localizada à Rua Ubaldino do Amaral, nº 321, no Alto da Glória, em Curitiba.

O perfil de vulnerabilidade econômica se enquadra na soma de até 1,5 salário mínimo de renda familiar per capta média. “A gente ainda não consegue atender a totalidade desse perfil, por uma questão orçamentária. Você tem, basicamente, o mesmo orçamento congelado por muitos e muitos anos e uma alteração no perfil que está entrando na universidade. Isso faz com que aumente a demanda, mas a oferta continue a mesma”, lamenta Fernando.

“Desenvolvemos uma metodologia para que os estudantes recebam um e-mail informando que estão abaixo de 75% e para que não sejam desligados, porque dessa forma estaríamos fazendo a exclusão, e não a inclusão. A gente precisa entender o que acontece na vida desse estudante e porque ele não está tendo o aproveitamento”, reforça a gestora da Prae.

A partir desse momento, a equipe pedagógica começa a trabalhar com os estudantes. Inicialmente, eles recebem um e-mail automático com o link para preenchimento de um formulário. Com as informações em mãos, o grupo de pedagogos convoca os alunos para entrevistas, com o objetivo de identificar situações que não estão permitindo o aproveitamento. Algumas delas se resolvem no âmbito do atendimento pedagógico, com auxílio da coordenação do curso. Outras necessitam de encaminhamentos internos e externos à UFPR.

“Muitos precisam de um apoio social – estão passando por uma situação de violência doméstica, por exemplo. Se você inventar um caso, a gente tem aqui. Imediatamente isso vai para o serviço social, para o acolhimento psicológico ou para fora da Universidade – delegacia, ONGs que acolhem mulheres vítimas de violência”, esclarece Maria Rita.

A pró-reitora destaca que o auxílio recebido é a base de sustentação de vida de muitos estudantes. “A gente lida com uma população que tem uma vulnerabilidade econômica muito grande. E isso a gente vem percebendo ao longo dos anos. Essa população vem chegando na universidade também por conta das políticas de inclusão”, reitera.

Com o auxílio do coordenador de Assistência Estudantil, os assistentes sociais da Prae desenvolveram uma tecnologia para inclusão de agravantes na avaliação socioeconômica. “No mesmo momento em que estávamos criando o sistema, os assistentes sociais desenharam esse perfil e atribuíram uma pontuação. Família chefiada por mulheres, negros e negras, indígenas, caso de deficiência na família, primeira pessoa que acessa o ensino superior, doença crônica, conformação familiar muito grande são exemplos de agravantes incluídos”, exemplifica Lauren.

A equipe da Prae promove uma reunião anual com os estudantes que recebem o auxílio, com o intuito de esclarecer dúvidas e repassar orientações. “Às vezes, são reuniões com quase cem alunos. Se tudo der certo e o aproveitamento estiver ‘ok’, esse será o único contato que teremos com o estudante. Nessa reunião, ele assina um termo de compromisso. A gente ressalta que é interessante que, ao perceber alguma necessidade dos nossos serviços, venha nos procurar. E não espere ser chamado”, afirma a gestora.

A Prae está presente nos campi da UFPR e, no Centro de Estudos do Mar (CEM) – Campus Pontal do Paraná, os alunos contam com o Serviço de Atendimento Psicológico. Em Curitiba, a pró-reitoria está localizada à Rua Ubaldino do Amaral, nº 321, no Alto da Glória. Informações sobre os serviços oferecidos e os horários de acolhimento psicológico e pedagógico estão disponíveis no site da pró-reitoria e na página no Facebook. Mais informações pelo telefone (41) 3888-7777 ou pelo e-mail prae@ufpr.br

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