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Polarização política pode interferir no comportamento dos brasileiros sobre a Covid-19, aponta pesquisa

Estudo nacional com participação de pesquisador da UFPR mostra que apoiadores do governo federal estão menos preocupados com a pandemia

O posicionamento político influencia no comportamento da população em relação à pandemia, é o que demonstra a pesquisa “A comunicação no enfrentamento à Covid-19”. Os brasileiros que aprovam o desempenho do governo Jair Bolsonaro estão menos preocupados com a Covid-19 e possuem menor intenção de vacinação em relação àqueles que reprovam a atual gestão à frente da Presidência da República.

A pesquisa foi conduzida pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília (CPS/UnB), em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Western University, do Canadá. O objetivo é identificar os grupos menos informados da população diante da pandemia, que enfrentam maior risco de adoecimento e podem contribuir para a propagação do vírus.

Pesquisa mostra quais informações as pessoas estão recebendo sobre a Covid-19 e quais fontes utilizam. Foto: Freepik/Divulgação

Os resultados mostram que 21% dos mais satisfeitos com o governo federal disseram estar muito preocupados com a Covid-19. Entre os insatisfeitos, o índice dos que estão muito preocupados é de 44,8%, ou seja, mais que o dobro de pessoas. Além disso, 1,4% dos que reprovam o governo federal não estão nada preocupados com a doença, enquanto que 8,7% entre aqueles que aprovam não estão nada preocupados.

Para o professor da Faculdade de Comunicação da UnB, coordenador do CPS e um dos responsáveis pela pesquisa, Wladimir Gramacho, os resultados mostram que existem desigualdades informacionais sobre a Covid-19 entre a população. O fator estrutural, que diz respeito à renda e nível educacional, interfere no grau de conhecimento sobre a doença.

Brasileiros que aprovam desempenho do governo federal estão menos preocupados com a Covid-19. Gráficos: Maria Fernanda Mileski/Agência Escola UFPR

No entanto, há o fator conjuntural demonstrado na pesquisa: “os brasileiros que aprovam o desempenho do governo são menos informados [sobre a Covid-19] que os que reprovam a atual gestão. Esse resultado parece concordar claramente com o conteúdo da narrativa do presidente, que tem negado a gravidade da pandemia”, relata.

Segundo o professor do Departamento de Ciência Política da UFPR e integrante da pesquisa na formulação do questionário e da amostra do estudo Emerson Urizzi Cervi, o estudo revela uma forma de combater a pandemia através da informação. “Essa pesquisa mostra que tipo de informação as pessoas estão recebendo sobre a Covid-19 e quais as fontes utilizam. Poderia até indicar caminhos para governos em suas campanhas, tornando os informativos mais diretos, mais eficientes e por consequência mais baratos”.

Foram 2.771 brasileiros e brasileiras entrevistados, entre os dias 23 de setembro e 2 de outubro, em uma amostra com cotas de gênero, idade, região geográfica e classe social. Uma segunda etapa da pesquisa acontecerá após as eleições municipais. O objetivo é avaliar se as campanhas eleitorais irão afetar o nível de preocupação e informação das pessoas em relação à pandemia.

Intenção de vacinação

Os dados apresentados pela pesquisa mostram que a polarização política associada ao nível de informação dos brasileiros influencia também na intenção de vacinação. Entre os críticos do governo Jair Bolsonaro, 79,2% disseram ter muita chance de se vacinar. Por outro lado, o percentual é de 54,5% entre os apoiadores da atual administração federal.

Dados mostram que polarização política associada ao nível de informação dos brasileiros influencia também na intenção de vacinação

Gramacho afirma que um dos possíveis mecanismos para isso acontecer é que pessoas costumam usar atalhos para se informar e tomar decisões sobre temas complexos, como a Covid-19. “No caso da pandemia, é possível que muita gente esteja usando suas lideranças políticas preferidas para tomar decisões sobre a gravidade da doença”, afirma o professor.

Meios de informação

A pesquisa também questionou por onde as pessoas se informam sobre a Covid-19. O professor da UFPR relata que é possível afirmar uma relação entre as fontes de informação e o nível de conhecimento sobre o vírus.

As pessoas que acertaram mais as questões do bloco de perguntas são as que têm mais intensidade de uso de portais de notícias na internet ou buscadores, como o Google. O grupo que tem menos conhecimento é o que diz buscar informações em redes sociais, como Facebook, Instagram e WhatsApp – os dados revelam que os usuários sabem entre 2% e 3% menos que os que nunca usam essas plataformas para se informar.

As pessoas que acertaram mais as questões sobre Covid-19 são as que têm mais intensidade de uso de portais de notícias na internet ou buscadores

O estudo também traz dados sobre o nível de conhecimento dos brasileiros sobre a doença. Através de um bloco de perguntas sobre a Covid-19, sua transmissão, sintomas e cuidados indicados pelas autoridades sanitárias, os pesquisadores demonstraram que a média da população brasileira é de 74% em acerto nas questões.

Divididas as respostas entre apoiadores e opositores do governo, 69% é o nível de acerto daqueles que avaliam o governo como “ótimo” ou “bom”. Para os que consideram a gestão federal “ruim” ou “péssima”, a média de conhecimento sobre a doença foi de 79,3%.

Confira aqui mais dados da pesquisa sobre a polarização política
Confira aqui mais dados da pesquisa sobre os meios de informação

Essa reportagem é resultado da ação Banco de Pautas Covid-19, da Agência Escola UFPR

Por Maria Fernanda Mileski
Edição: Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública da UFPR

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