Esta semana, cerca de dez mil pessoas foram às ruas de Curitiba pedir por um país melhor. A manifestação, pacífica em sua maioria, reuniu jovens, adultos de todas as idades e crianças, tendo o Prédio Histórico da UFPR como palco de mais um momento histórico do Brasil. Professores da Universidade fazem uma análise dos protestos que tomaram as ruas.
A falta de uma pauta de reivindicações fixa e específica, para as manifestações que vêm ocorrendo em diversas cidades do Brasil, nesses últimos dias, não garantem às passeatas um caráter de pouca credibilidade, segundo Emerson Cervi, cientista político da UFPR. O professor explica que começaram em São Paulo e Rio de Janeiro e se espalharam por todo País e são consequência de um conjunto de manifestações de massa que não têm uma organização centralizada. “É a prova de que a população tem a capacidade de se mobilizar sem a necessidade de alguma instituição centralizando a organização do manifesto. As passeatas surgem de uma indignação generalizada”, comenta.
Entretanto, os efeitos ou mudanças que os protestos acarretarem ainda estão longe de ficarem visíveis. “Nem sequer sabemos se haverá alguma mudança significativa. Quando a euforia passar e nós racionalizarmos o que está sendo reclamado, vamos ver que algumas reivindicações não se sustentam”, alerta o professor Emerson, citando o caso dos gastos com a Copa do Mundo do ano que vem. Afirma também, que o valor gasto na Copa é menor que o valor destinado para saúde e educação e que após o evento acabam-se os gastos e fica a infraestrutura.
Dois outros tópicos podem criar falsa esperança nas manifestações: as eleições para presidente no ano que vem e a repercussão e mobilização de brasileiros em países como Espanha, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Quanto à influência nas eleições, o professor alerta que o pleito será para presidente e algumas reivindicações focam em assuntos dos municípios, deixando as discussões em diferentes níveis. Sobre as mobilizações internacionais, Emerson Cervi atribui apenas a característica de solidariedade. “Esse apoio pode, no máximo, fazer com que se tenha mais visibilidade sobre os acontecimentos, mas visibilidade não garante nada além dela mesma”, conclui.
Pelas mídias sociais ─ Segundo Luciana Panke, jornalista e pesquisadora que estuda atores sociais e processos eleitorais, a internet, por meio das mídias sociais, se tornou a plataforma virtual de regularização dos protestos que se multiplicaram no Brasil e que tiveram nitidez e adeptos pelo mundo.
Para Luciana a concretização de manifestações como estas, deixa bem visível que as discussões não se limitaram apenas ao virtual, mas converteram-se para o físico. “Houve uma migração do ativismo on-line para as ruas”, comenta.
De acordo com a jornalista, a disponibilidade de informações diversas, caracteriza num apelo democrático fortíssimo, pois diferentes visões estão sendo disponibilizadas para o espectador, permitindo que ele forme uma opinião própria, não elaborada pela grande mídia. Com relação ao posicionamento da grande mídia não é possível generalizá-lo, porque se têm percebido várias posturas. Ao que parece no início das manifestações, antes dos exageros da polícia, os protestos eram mais condenados pela imprensa, mas depois houve um pouco de mudança na postura.
Não ter uma pauta única, com objetivos bem definidos e claros pode dificultar a continuidade dos protestos. “Manifestações são legítimas e caracterizam uma forma de ação política, mas para não morrerem, o movimento deve ter clareza na pauta, pois, caso contrário, partidos podem se apoderar dele, usando as pessoas que se dispõem ou provocar desmotivação nos participantes”, afirma Luciana.
O reitor da UFPR Zaki Akel Sobrinho vê as manifestações populares como muito positivas, principalmente por envolverem as novas gerações. “A ação é uma importante materialização da ação da juventude do mundo virtual. Na Universidade, trabalhamos o conceito da participação nas grandes pautas nacionais. As manifestações celebram a cidadania, as grandes pautas, como a valorização da educação e da saúde, com um olhar especial para o Hospital de Clínicas, o maior do Paraná”. Zaki Akel diz que não se pode fazer uma análise precipitada dos fatos, mas a participação popular deve ser observada pelos gestores públicos como um momento de reflexão de políticas públicas melhores para a população.
Flaécia Gomes e Lucas França (orientação Maria de Lurdes Welter Pereira e Lais Murakami).