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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Pesquisa da UFPR mostra impactos do transporte público no acesso ao lazer em Curitiba

Dissertação estudou bairro Caximba e venceu premiação da maior entidade científica de Educação Física do Brasil

Usando a Caximba como referência, a pesquisa de mestrado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) intitulada “Tarifa Domingueira: impactos do transporte público no lazer na cidade de Curitiba-PR” aborda a mobilidade urbana com fins de lazer, especialmente para a população periférica da cidade. A dissertação de Bruno David Rodrigues Neca, mestre e atual doutorando em Educação pela UFPR, faz parte do acervo do Grupo de Pesquisa em Lazer, Espaço Público e Cidade (Geplec) da UFPR.

A questão-chave do estudo é que, a partir do momento que o cidadão pode entrar em contato com uma realidade diferente, pode questionar a realidade em que vive. “Defendemos que o lazer é político. A partir dessas questões, o cidadão começa a questionar quem ele é. Será que eu sou pertencente a essa cidade?’’, explica Bruno.

Pesquisa de mestrado mostra impactos da extinção da Tarifa Domingueira no acesso ao lazer, para população periférica de Curitiba. Foto: Nicolle Schumacher/Sucom-UFPR

A pesquisa, orientada pela professora Simone Rechia, do Departamento de Educação Física da UFPR, concluiu que os cidadãos reduzem as experiências de lazer para o ambiente doméstico, porque no bairro onde moram faltam espaços de lazer qualificados, e para se apropriar dos grandes parques da cidade de Curitiba, um facilitador do acesso via transporte público foi extinto sem consulta à sociedade.

A Tarifa Domingueira foi uma política pública de incentivo ao deslocamento da população para o lazer. Entre 2005 e 2017, o preço das passagens de ônibus aos domingos era reduzido. Antes da horizontalização das tarifas, as passagens normais custavam R$ 3,70 e, aos domingos, R$ 2,50.

Resultados

Para entender a relação da população com a Tarifa Domingueira, a principal região analisada foi a da Caximba. De acordo com o estudo, a maioria dos pontos de lazer da cidade estão na região norte e central da cidade. A Caximba, localizada no extremo sul da capital paranaense, acaba sofrendo um processo de exclusão devido à distância geográfica. A dissertação mostra que a extinção da Tarifa colabora com o isolamento desse bairro dos espaços de lazer da cidade.

“Praça dos Piás’’ foi único espaço de lazer identificado no bairro Caximba, que, segundo a população, necessita de manutenção, água e sombra. Foto: Divulgação-23/02/2019

Neste bairro foi identificado apenas um espaço de lazer, que sofre com problemas de falta de manutenção e ausência de água e sombra para as crianças. A Tarifa Domingueira, que foi criada para incentivar as populações mais carentes a passear pela cidade, foi extinta através de um decreto. Isso teria causado um aumento na dificuldade de deslocamento para as populações periféricas devido aos custos de passagem, alimentação, ingressos, entre outros, que envolvem as experiências de lazer.

Para Simone, há uma tensão entre a comunidade que dependia da Tarifa e a questão econômica. “A gestão pode olhar como uma perda econômica devido ao prejuízo causado por domingo, mas também é uma perda de saúde, pois a população não acessa essas experiências’’, conta a professora.

Pesquisa

Para Bruno, os fatores distância e tipo de deslocamento foram essenciais para a escolha do local estudado. “O bairro Caximba é mais distante da região central e norte, onde concentram-se os grandes parques. Dessa região, o foco de pesquisa eram pessoas que dependiam do transporte público para se locomover na cidade’’.

Durante a investigação, Bruno se aproximou de pessoas no terminal de ônibus Pinheirinho e dentro do ônibus Caximba, que atende a região selecionada, coletando 50 depoimentos de usuários de transporte coletivo. Durante a dissertação, uma curiosidade surgiu na equipe. “Já que a população periférica não tem acessibilidade aos pontos de lazer, o que é que tem em seus bairros? Isso é o suficiente?’’. Assim, a dissertação passou a abordar também os espaços de lazer do bairro dessa população.

Estudo faz parte do acervo do Grupo de Pesquisa em Lazer, Espaço Público e Cidade (Geplec) da UFPR. Foto: Divulgação

No estudo, o pesquisador deparou-se com uma única praça de lazer na Ocupação 29 de março, que segundo a população, necessita de manutenção, equipamentos como a academia ao ar livre, água e sombra para que as crianças e adultos possam se apropriar do tempo de lazer com qualidade.

Outra questão abordada pela dissertação é que a falta de qualidade no sistema de transporte público, como superlotação, falta de segurança e conforto, frota sucateada e reduzida. “Essas questões impactam negativamente as viagens nos trajetos durante a semana para o trabalho que, se qualificado, poderia ser considerado um tempo possível de fruição do lazer, contribuindo para qualidade de vida do cidadão”, aponta Bruno.

Premiação

A pesquisa de mestrado foi premiada no XXI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. A categoria de “Melhor trabalho da área de lazer e sociedade’’ teve o estudo de Bruno como vencedor. A premiação foi feita em setembro pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), maior entidade científica de Educação Física do Brasil, de Natal (RN).

Os fatores considerados pela premiação foram a estrutura lógica e consistência argumentativa, a atualidade e relevância, a criatividade e inovação no desenvolvimento da pesquisa, a coerência e rigor teórico-metodológicos e o registro linguístico, conforme o regulamento do prêmio.

Além disso, um artigo com os resultados do estudo foi aprovado para publicação, no exemplar de março 2020, na revista científica Licere, do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Por Breno Antunes da Luz
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR

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