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Evento “Brado Retumbante” relembra tomada da reitoria em 1968 e faz discussão sobre ativismo estudantil

Os 50 anos da “tomada da reitoria”, como ficou conhecida a ampla mobilização estudantil contra determinação de que a UFPR cobrasse mensalidades dos aprovados no vestibular de 1968, foram lembrados no evento “Brado Retumbante”, realizado pela Fundação Maurício Grabois e pela reitoria na noite de sexta-feira (25), em Curitiba. Muitos já profissionais aposentados, ex-alunos da UFPR que participaram do movimento que tentou impedir o vestibular e ocupou o Campus Reitoria relembraram a mobilização e comentaram a situação atual dos movimentos estudantis.

“É importante que as pessoas se mobilizem e não sejam apáticas se submetendo aos interesses de pequenos grupos”, argumentou o advogado Stênio Salles Jacob, presidente da União Paranaense de Estudantes (UPE) em 1968 e um dos componentes da mesa redonda. Jacob relembrou como os estudantes se organizaram, tanto universitários quanto secundaristas. “Discutimos a questão nos cursinhos para que os calouros tivessem ciência de que isso estava sendo preparado para onerar o ensino deles”, contou.

Participantes da mesa redonda: Ana Lúcia Silva Ratto, professora do Departamento de Educação da UFPR; Augusto Buonicore, historiador e diretor da fundação; o mediador César Bueno, da PUCPR; e Stênio Jacob, um dos organizadores da Tomada da Reitoria em 1968. Foto: Janaina Martinez/Divulgação

A primeira ação dos estudantes foi impedir a realização do vestibular, no Campus Politécnico. A prova foi adiada, mas a gestão do reitor Flávio Suplicy de Lacerda manteve a determinação de cobrança. Como os estudantes não conseguiram impedir o vestibular na nova data, uma vez que os locais de prova foram cercados pela polícia montada, a mobilização se voltou para a ocupação da reitoria, ocorrida em 14 de maio. Para conter a entrada da polícia, foram erguidas barricadas com paralepípedos no entorno do campus.

Como lembraram os participantes da tomada, a mobilização garantiu que a ideia de “ensino pago” na UFPR fosse afastada na época, bem como ajudou a atrair a atenção da classe média curitibana para as arbitrariedades do regime militar. O historiador Augusto Buonicore sustentou que, a partir de 1967, quando os efeitos da política neoliberal de restrição ao ensino universitário da ditadura já dava sinais de seus efeitos, “o movimento estudantil passou a ser a ponta de lança das camadas médias da população”.

Buonicore avaliou que a restrição ao diploma universitário e a repressão sobre universitários pode ter contribuído para que parte da classe média da época, que havia apoiado o golpe militar, revisse sua posição. “Em 1964, 99,5% dos brasileiros estavam fora da universidade. Os estudantes eram filhos das camadas médias, que foi atingida pela propaganda anticomunista dos militares”, disse. “Por isso acredito que 1968 tem muitas lições a dar para os trabalhadores e para a juventude”.

Referência

Também universitário em 1968, quando foi torturado e preso durante dois anos, o jornalista Antonio Narciso Pires, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Paraná, se disse preocupado com o arrefecimento do movimento estudantil na atualidade, em um momento que considera “de extrema gravidade”.

“Como parte do nosso trabalho de manter viva a memória histórica sobre o fascismo da ditadura, organizamos na Boca Maldita [local na área central de Curitiba] uma exposição fotográfica até o fim de 2015, quando tivemos que nos retirar porque quem ficava responsável pelo material era exposto a riscos”, contou. “É um momento de reflexão e de autocrítica, porque o Golpe de 1964 não foi apenas militar, foi midiático, empresarial e até religioso”.

O médico José Ferreira Lopes, o Zequinha, que era universitário na UFPR quando precisou parar de estudar para viver na clandestinidade, levantou a possibilidade de os estudantes da atualidade terem perdido referenciais quanto ao porquê e como se manifestar. “Em maio de 1968, o estudante viu a deterioração da educação e se mobilizou contra isso. Nossa geração tinha clara a luta, mas hoje ela não parece latente”, disse.

A questão foi citada também por outros debatedores. “A gente vê uma dificuldade grande de mobilização. Temos que nos perguntar por que isso está enfraquecendo tanto nas nossas relações cotidianas”, comentou Ana Lúcia Silva Ratto, professora do Departamento de Educação da UFPR. Para Ana Lúcia, o ensino continua um tema a respeito dos quais alunos devem se importar.

Ela citou as recentes mudanças na legislação federal que, no entender dela, têm intenções similares com as ocorridas na ditadura, quando o foco da educação não era cidadania, mas formação de mão de obra. “São reformas absolutamente importantes que vêm sendo baixadas de maneira autoritária e rápida”.

Mais sobre a Tomada da Reitoria de 1968 aqui e aqui

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