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Inclusão é tema da primeira dissertação defendida por um estudante com paralisia cerebral na pós-graduação em Educação

Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)
Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)

O estudo “Deficiência física neuromotora: um estudo das políticas e seus desdobramentos na educação infantil” entra para a história do Setor de Educação da UFPR. É a primeira vez que um estudante da pós-graduação com paralisia cerebral defende sua dissertação de mestrado no Setor de Educação.

O trabalho é do macapense Claudovil Barroso Junior, professor da rede estadual de ensino do estado do Amapá, ele entrou para o Programa de Pós-graduação em Educação no ano de 2016. A pesquisa revelou que há uma má compreensão da condição da pessoa com este tipo de deficiência, o que resulta em politicas de inclusão mal orientadas.

Segundo Claudovil, as práticas de inclusão têm um foco muito grande na deficiência o que prejudica o desenvolvimento do indivíduo. “Observa-se que a maioria dos discursos teóricos sobre a educação da pessoa com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral ainda se encontram aliados à concepção clínico-terapêutica” revela o estudante.

Claudovil, que além de pesquisador é professor de educação especial, explica que é preciso ter uma concepção mais ampla da inclusão. Segundo ele é necessário ver o estudante “como uma pessoa que tem potencialidades a desenvolver e aperfeiçoar, mediante constantes estímulos fundamentados na pedagogia da inclusão, com a intenção de romper as amarras sociais para conquistar o direito de ser, estar e querer viver sua diferença”.

Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)
Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)

A experiência de vida e sua trajetória profissional foram marcantes para a escolha do tema e também ajudaram a subsidiar o trabalho. O foco da pesquisa foram as políticas de inclusão na educação básica das cidades de Colombo e de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Pesquisando casos específicos de crianças que sofrem com a condição, descobriu que enquanto em Pinhais há uma política mais acertada, em Colombo o modelo de inclusão tende a prejudicar os estudantes.

Segundo a professora Sueli Fernandes, que orientou o trabalho, cerca de 70% de pessoas com paralisia cerebral não tem qualquer comprometimento intelectual mas muitas delas, como revelou o estudo, em vez de terem suporte para compensar as deficiências físicas e continuar no ensino regular, acabam sendo tratados como se tivessem uma deficiência intelectual.

A condição que levou a ter dificuldades motoras que marcariam sua vida aconteceu devido a negligência médica durante o nascimento e, apesar de passar por várias “crises existenciais” como chama, com 16 anos pode aceitar-se por completo. Segundo Claudovil, o principal desafio que enfrentou não foram as dificuldades neuromotoras, mas as barreiras criadas pelas atitudes que as pessoas têm em relação à condição, tendendo a buscar classificar as pessoas.

Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)
Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)

Orgulhoso de suas origens, o estudante deve retornar ao trabalho docente em breve no Amapá e afirma “sou Amazônida, sou negro, sou caboclo, sou do Norte. Tenho a identidade inacabada, sempre em constante construção e desconstrução”.

[Errata – Afirmamos na matéria que a defesa de Claudovil poderia ser a primeira de um estudante de pós-graduação com paralisia cerebral na UFPR, mas descobrimos que o advogado Luiz Marlo de Barros Silva, que também tem a condição, defendeu em 1991 sua dissertação de mestrado e em 2000 sua tese de doutorado no Programa de Pós-graduação de Direito da universidade. Atualmente Luiz Marlo é advogado da Fundação da UFPR (Funpar) e professor universitário nas Faculdades Integradas Santa Cruz.]

Acompanhe alguns trechos da entrevista que a equipe de comunicação da UFPR fez com o autor do estudo:

Rodrigo Choinski – Poderia falar um pouco do seu trabalho, qual foi sua motivação e qual o diferencial da sua pesquisa?
Claudovil Barroso Junior – A motivação de produzir essa pesquisa, cuja temática é a deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, se deve ao término das minhas crises existenciais como pessoa que possui essa deficiência. O diferencial da minha pesquisa, é desejar romper com os discursos ideológicos que associam tal deficiência como uma doença degenerativa ou em estado vegetativo; essas concepções materializam práticas de captura de um corpo “doente” com a intenção de cura, a partir de um padrão de normalidade.

Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)
Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)

RC – Gostaria que falasse um pouco dos resultados da pesquisa, você pesquisou as cidades de Colombo e Pinhais, como está a situação de inclusão nestes municípios?
CBJ – Minha pesquisa teve como recorte temporal, o texto da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, publicada em 2008, que estabelece que alunos com deficiência devem frequentar a sala de aula comum e no contraturno o atendimento educacional especializado, e também a pesquisa de [Louize Mari] Rocha, que apontou a existência de fila de espera, caráter substutivo na escolarização, fragilidade no atendimento na educação infantil para crianças com deficiência, nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Dos 29 municípios que compõem a mesma, escolhemos os municípios de Colombo e Pinhais. A pesquisa indicou que, apesar dos constantes avanços na construção de políticas educacionais na perspectiva inclusiva, o município de Pinhais encontra-se em concordância ao que prevê o texto da Política Nacional, já o município de Colombo encontra-se em descompasso, com que estabelece o documento da Política.

RC – Queria que você contasse um pouco da sua história, você é de Macapá, correto? Como você acabou vindo para a UFPR?
CBJ – Sou natural de Macapá, capital do estado do Amapá. No ano de 2006, terminei a graduação em Pedagogia. Ingressei no ano seguinte, no serviço público estadual, como professor da educação especial. Com o início da minha primeira especialização em 2009, comecei vislumbrar um curso de pós-graduação nível stricto sensu, almejava me qualificar. Após inúmeras tentativas frustradas, em 2016, fui aprovado na UFPR. Conheci Curitiba em 2011, como turista. Em 2015, com o resultado desfavorável em um processo seletivo, entrei no site da UFPR, o edital para mestrado em educação estava aberto, me inscrevi e realizei todas as etapas, sendo aprovado em 2016, na linha de pesquisa – Educação: Diversidade, Diferenças e Desigualdade Social, tendo como orientadora, a professora doutora Sueli de Fátima Fernandes. Com a aprovação, o Governo do Estado do Amapá, concedeu minha licença para eu cursar o mestrado, agradeço.

Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)
Defesa da dissertação de mestrado de Claudovil Barroso Junior, professor de educação especial (foto: Marcos Solivan)

RC – Gostaria que você falasse um pouco da sua situação, quais as principais dificuldades que você enfrentou devido a paralisia e como as superou?
CBJ – Nasci em 1983, em Macapá, com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral em decorrência de uma negligência médica, fiz tratamentos terapêuticos até os meus 18 anos. Todavia, após cessarem as crises existenciais, aos 16 anos, me aceitei por completo. As principais dificuldades que eu enfrentei foram as barreiras atitudinais que, muitas vezes não têm voz “audível”, é silenciada, mascarada e até mesmo dissimulada, se materializando em discursos ideologicamente dominantes estabelecidos pelo social, categorizando quem é normal e anormal, preto e branco, pobre e rico. Procuro superar todos cotidianamente, por meio das constantes lutas e resistências, como produtor e ator de discursos de empoderamento contra toda e qualquer forma de discriminação.

RC – O que você gostaria de ver sendo implementado em relação às políticas públicas voltadas para pessoas com paralisia?
CBJ – Gostaria que a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, por meio do atendimento educacional especializado para pessoas com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral estivesse sendo efetivada, pois, percebe-se que, independentemente de investimentos de programas federais, o direito de acesso, sobretudo, a permanência dessas no processo educacional, não está sendo assegurado plenamente.

RC – A professora Sueli explicou que em seu trabalho você descobriu que a abordagem da inclusão nas escolas tem sido voltada muito para as áreas clínicas, e que isso muitas vezes afasta quem tem paralisia cerebral da sala de aula regular, sem necessidade, prejudicando o desempenho. Você poderia falar um pouco sobre isto?
CBJ – Em minha pesquisa, observa-se que a maioria dos discursos teóricos sobre a educação da pessoa com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, ainda se encontram aliados à concepção clínico-terapêutica, concebendo apenas a deficiência e, não a partir da concepção socioantropológica, que a veja como uma pessoa que tem potencialidades a desenvolver e aperfeiçoar, mediante constantes estímulos fundamentados na pedagogia da inclusão, com a intenção de romper as amarras sociais para conquistar o direito de ser, estar e querer viver sua diferença.

Por Rodrigo Choinski

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