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FEDERAL DO PARANÁ

Estudantes de pós-graduação contam trajetórias e impactos das pesquisas; confira dados sobre mestrado e doutorado

Os 91 programas de pós-graduação stricto sensu da UFPR abrangem 47 áreas do conhecimento e têm 532 grupos de pesquisa

A pós-graduação stricto sensu, que inclui os cursos de mestrado e doutorado, é responsável por grande parte da ciência no Brasil – as universidades públicas realizam mais de 95% do conhecimento científico produzido no país. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) possui 91 programas stricto sensu, que abrangem 47 das 49 áreas do conhecimento de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Esse é o dado que coloca a UFPR como uma das maiores universidades do Brasil em termos de pesquisa e pós-graduação e de produção do conhecimento”, diz Francisco Mendonça, pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFPR. Conheça abaixo trajetórias e pesquisas de estudantes de pós-graduação da UFPR.

A UFPR tem atualmente 8.001 estudantes de pós-graduação, sendo 4.606 mestrandos e 3.395 doutorandos, distribuídos em 17 setores e com atuação em 532 grupos de pesquisa – confira no infográfico abaixo. Números expressivos que evidenciam o tamanho da pós-graduação e a importância dos investimentos nas universidades públicas. “A grande resposta que a nossa Universidade dá ao investimento da sociedade é o retorno de profissionais e pesquisadores altamente qualificados: mestres, doutores e pós-doutores em todas as áreas do conhecimento”, explica Francisco.

Arte: Gabriela Tacla/Agência Escola UFPR. Ilustração: Freepik/Divulgação

Embora os cursos de mestrado e doutorado sejam promissores para o avanço da ciência nacional, cortes de bolsas ameaçam seu desenvolvimento e impedem que algumas classes sociais acessem a pesquisa. “Torna-se muito difícil para um aluno pesquisar ou produzir qualquer coisa, não importa o quão qualificado ele seja, se ele está preocupado se vai comer aquela noite. Isso cria um ambiente em que apenas aqueles alunos de pós-graduação que estão em condições econômicas mais favoráveis consigam prosseguir com suas pesquisas sem preocupações maiores, isso acaba gerando um tipo de elitismo”, comenta Antonio Carlos Gonçalves Filho, presidente da Associação de Pós-graduandos da UFPR (APG-UFPR).

As bolsas para estudantes de pós-graduação permitem que pessoas de diferentes setores e classes sociais distintas alcancem a pesquisa e evitam um ambiente restrito de pesquisadores. “A pós-graduação ainda tem um caráter muito forte de classe e de raça e é preciso que a gente avance muito mais no sentido da inclusão social na pós-graduação. É preciso garantir de forma mais perene e segura mais recursos para a pós-graduação e para pesquisa, porque é dela que mais de 95% do conhecimento no Brasil é produzido e esse conhecimento está na base do desenvolvimento da nossa sociedade, desenvolvimento social, econômico, tecnológico, industrial, empresarial etc.”, complementa Francisco.

O pró-reitor é otimista quanto à reversão do cenário de descrédito na ciência e cortes de bolsas. “O Brasil é um país rico. É uma escolha de onde aplicar os recursos. Eu sou otimista no sentido de achar que as dificuldades presentes são temporárias”.

Associação de Pós-graduandos
diante dos cortes de bolsas

A atual APG foi criada em 2019 como uma consequência direta dos cortes de bolsas que aconteceram naquele ano. Apesar de o DCE (Diretório Central dos Estudantes) representar também os alunos de pós-graduação, viu-se a necessidade de criar uma entidade para tratar dos temas específicos da pós que muitas vezes são diferentes da graduação. “Boa parte da pesquisa feita no Brasil é feita por universidades públicas e a produção principal é feita por alunos de pós-graduação. Tentamos garantir que esses estudos sejam valorizados, bem divulgados e que nós enquanto seres humanos sejamos tratados com as melhores condições possíveis”, explica Antonio sobre o papel da APG.

A Associação atua também no papel de divulgadora científica e promove eventos, como a Semana Científica, na tentativa de combater a narrativa de que a pesquisa não ajuda no dia a dia das pessoas. “É uma narrativa muito antiga esse ceticismo em relação à importância da educação e da pesquisa no Brasil. A ciência ajuda de várias maneiras, você vê projetos de desenvolvimento de vacinas, tratamento de água, urbanização, energias alternativas, são vários estudos que afetam todo mundo de uma forma muito direta e prática”, diz Antonio.

A APG não se restringe na busca por auxílio financeiro para os estudantes, há preocupação com a saúde mental e o bem-estar dos alunos de pós-graduação. “O estresse psicológico é uma realidade muito frequente para alunos de pós-graduação. Nós estamos fazendo mais coisas nesse sentido da saúde mental. Precisamos ter acessos para psicólogos para os alunos de pós que já sofrem com transtornos psicológicos, como depressão e bipolaridade”, relata Antonio.

O presidente da APG destaca a importância de manter canais abertos para denúncias de assédio moral e sexual na UFPR e o papel da Associação como mediadora entre os alunos de pós-graduação e a Universidade. “As mulheres, nossas colegas, são as mais afetadas e é importante ter canais para falar sobre isso, para expor e para dividir experiências. Isso é uma coisa que a gente sempre tem que trabalhar no sentido de melhorar e não deixar esse tipo de coisa ser normalizada”.

Internacionalização do conhecimento

Um dos aspectos da pós-graduação da UFPR é a internacionalização. São ao todo 435 acordos de cooperação internacional com universidades do mundo todo (os acordos incluem também a graduação) e garantem parcerias para intercâmbios e pesquisas com instituições de várias localidades. “Nos últimos 20 anos está cada vez mais intensificada e importante a política de internacionalização do conhecimento. Para o conhecimento adquirir cada vez mais poder e importância, ele tem que se fazer na interação com outras realidades no mundo”, explica Francisco Mendonça.

André Duarte é diretor da Agência UFPR Internacional, órgão responsável por fortalecer as cooperações internacionais da Universidade e promover o conhecimento produzido na UFPR para o mundo. “O processo de internacionalização da pós-graduação passa por vários caminhos institucionais e o mais evidente deles é o projeto Print UFPR, que promove as atividades de intercâmbio financiadas pela Capes. Existem também intercâmbios por fora do Print através dos acordos de cooperação internacional que nós temos com várias universidades do mundo”, relata André.

Um processo que já existia, mas ficou mais evidente durante a pandemia é a “internacionalização em casa”. Devido à impossibilidade de viagens e dos cortes de orçamento nas universidades, o Brasil foi levado a incorporar essa internacionalização à distância. “São processos que passam pela ativação de interações virtuais com os nossos parceiros no exterior. Agora na pandemia é a via principal das nossas interações e eu estou seguro de que mesmo no pós-pandemia a internacionalização virtualizada será a mais efetiva e mais possível durante um bom tempo. Mesmo porque a internacionalização é muito cara ainda e acredito que a forma virtualizada vai permitir as interações entre grupos de pesquisa, entre professores e suas turmas de pós-graduação e em cursos online simultâneos ou não simultâneos”, explica o diretor da Agência UFPR Internacional.

Carreira acadêmica
reconhecida internacionalmente

O processo de internacionalização e a cooperação com instituições de outros países permitem não apenas que os alunos da UFPR saiam do país, mas que também alunos do exterior venham estudar aqui. É o caso de Ahmed Kadle, médico veterinário da Somália que fez doutorado na UFPR. Ahmed iniciou o doutorado em 2018 e terminou em aproximadamente dois e meio dos quatro que tinha para finalizar o curso. “Ele é um rapaz muito intenso. Defendeu o doutorado no meio da pandemia com facilidade, porque já no segundo ano nós publicamos um artigo em uma revista de impacto relativamente alto para medicina veterinária. Ano passado publicamos outro em uma revista internacional, então ele estava preparado”, comenta o professor Rafael Vieira, do departamento de Medicina Veterinária.

O somaliano Ahmed Kadle fez doutorado em Medicina Veterinária na UFPR e hoje é reitor da Universidade de Abrar, na Somália. Foto: Laboratório de Doenças Transmitidas por Vetores UFPR/Divulgação

O somaliano tem uma carreira acadêmica meteórica. Ainda no doutorado, recebeu o convite da Universidade de Abrar (Somália) para ser docente e pouco tempo depois foi chamado a ser reitor da mesma instituição em 2021. O agora reitor destaca que a UFPR o auxiliou a trilhar esse caminho. “É recompensador ter o título de doutor pela UFPR. Isso ajudou muito a minha carreira acadêmica e as amizades e conexões que fiz impulsionaram o avanço na minha carreira. Sinto que com meu doutorado eu não adquiri apenas ferramentas técnicas, mas também confiança o suficiente para analisar e resolver problemas epidemiológicos com características de interação humano, animal e meio ambiente”, conta Ahmed sobre sua trajetória.

A pesquisa de Ahmed sob a orientação do professor Rafael fez um estudo epidemiológico sobre as espécies do parasita trypanosoma em camelos, caprinos e ovinos da Somália. O país é o maior exportador de camelos do mundo e o avanço da epidemia de trypanosoma afeta toda a cadeia produtiva, outros animais que têm contato com os camelos e até mesmo em humanos. “O nosso estudo foi o primeiro a realizar a detecção molecular de espécies de trypanosoma em ruminantes da Somália e mostra a necessidade da implementação de um controle e medidas adequadas para reduzir o avanço de doenças causadas pelo parasita e o impacto na produção de camelos e ruminantes do país”, explica Ahmed.

Atualmente ele faz pós-doutorado na UFPR com bolsa IsDB-TWAS (Islamic Development Bank and The World Academy of Science) e pretende fortalecer o acordo de cooperação internacional estabelecido com o Brasil. “Outros estudantes já foram ao Brasil fazer intercâmbio. Agora, com a minha nova posição como reitor da Universidade de Abrar, nós queremos melhorar a relação para beneficiar as comunidades da Somália com conhecimento e pesquisadores de diferentes departamentos da UFPR”, finaliza Ahmed.

Resultados de pesquisa
para além da universidade

Larissa Drabeski defendeu o mestrado em Comunicação em 2019 com o tema “Identidade polono-brasileira em São Mateus do Sul-PR: processos comunicativos e identidade étnica tecidos em família”. O trabalho ganhou o prêmio Curta Ciência, da UFPR, como melhor dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM). A pesquisa teve orientação da professora Valquíria Michela John e o tema surgiu da vivência pessoal da pesquisadora, que dá continuidade no trabalho no doutorado.

Descendente de poloneses, Larissa cresceu em São Mateus do Sul e percebeu que a expressão da identidade étnica polonesa era muito forte na cidade, o que acabou despertando sua curiosidade como pesquisadora. “Eu queria entender porque as pessoas que são descendentes de uma migração que aconteceu lá em 1890, continuam se identificando como poloneses e expressando essa identidade de diversas formas ainda hoje. Além de tentar entender quais são os processos de comunicação que estão atravessando essa construção da identidade”, explica.

Resultados de pesquisa de mestrado em Comunicação de Larissa Drabeski tiveram exposição fotográfica em 2019, possibilitando acesso às famílias estudadas. Foto: Karina Pizzini/Divulgação

A pesquisadora observou que são processos comunicativos distintos que contribuem para a expressão da identidade polonesa. “São a família, a religião, a língua e o pertencimento à comunidade que expressam a identidade polonesa. Nós vemos que são vários espaços de construção das identidades, mas que eles são conectados entre si e além desses quatro espaços tem a relação do sujeito com os meios de comunicação, que é um aspecto bem relevante para a gente pensar a construção da subjetividade dos sujeitos”, complementa.

O estudo realizado por Larissa extrapolou os muros da academia. A pesquisadora conseguiu levar os resultados para a comunidade por meio de uma exposição fotográfica realizada em 2019. As famílias que participaram do estudo puderam entrar em contato com esses fragmentos captados da cultura polonesa que permanece viva. “É diferente de você apresentar o trabalho que é produzido no âmbito da universidade para um outro público, em um outro contexto. Ao mesmo tempo que isso gerou muita ansiedade por qual seria a receptividade, foi muito bacana porque a receptividade das pessoas pela pesquisa foi muito legal, deu pra ver que elas se sentiram realmente representadas. Eu acho que isso com certeza aproxima mais a universidade dos sujeitos da pesquisa”, finaliza Larissa.

É possível ver mais sobre a pesquisa da Larissa no vídeo que ela fez para o Curta Ciência, disponível na página do Facebook do Programa de Pós-Graduação em Comunicação.

Excelência na pesquisa
com sustentabilidade e economia

Nas Ciências Exatas um exemplo de excelência na pesquisa é a tese de doutorado defendida por Cristiane Kalinke com o título “Biochar quimicamente ativado: obtenção, caracterização e aplicação no desenvolvimento de sensores eletroquímicos”. A pesquisa foi uma das quatro da UFPR que recebeu o Prêmio Capes de Tese 2020. Cristiane é formada em Química e fez mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Química da UFPR (PPGQ-UFPR).

“Durante o mestrado comecei a trabalhar com o desenvolvimento de sensores eletroquímicos utilizando biochar como modificador dos eletrodos. Este é um material carbonáceo sustentável e de baixo custo, obtido a partir de resíduos industriais ou agrícolas e tem um grande apelo ambiental e econômico”, explica Cristiane sobre sua pesquisa orientada pelo professor Márcio Fernando Bergamin.

O biochar é uma espécie de carvão vegetal e o objetivo foi explorar melhor as características dele para a pré-concentração e determinação de diferentes espécies, como metais tóxicos, pesticidas, fármacos e carboidratos (como a glicose). “No doutorado, pudemos avaliar diversos tipos de tratamentos do biochar, e aplicá-lo em cinco diferentes estratégias, como para a determinação de níquel em etanol combustível e águas, compostos fenólicos em vinhos e glicose em amostras biológicas”, comenta a pesquisadora que no doutorado teve a orientação do professor Márcio Fernando Bergamin novamente e com co-orientação de Luiz Humberto Marcolino Junior.

Cristiane Kalinke fez mestrado e doutorado em Química e pesquisou uma espécie de carvão vegetal como modificador de eletrodos com baixo custo e sustentável. Foto: Divulgação

Cristiane fez o chamado Doutorado Sanduíche quando parte da pesquisa é realizada em outro país. Durante seis meses, a química desenvolveu os estudos na Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha, pelo PDSE-Capes (Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior). Ela concluiu com seu estudo que a aplicação de biochar ativado como modificador de eletrodos tem baixo custo e é mais saudável ao meio ambiente, além de ter potencial para determinar diferentes espécies em amostras distintas.

“Quando se trabalha com o desenvolvimento de um material, é de suma importância realizar a sua caracterização, e neste ponto sempre tivemos o apoio de todo o parque tecnológico da UFPR, sendo que todas as análises puderam ser realizadas na própria Universidade, principalmente no Departamento de Química”, finaliza Cristiane sobre a estrutura oferecida pela UFPR para sua pesquisa.

Interdisciplinaridade nos estudos
a partir de formatos distintos

Antonio Carlos Gonçalves Filho, além de presidente da APG-UFPR, é doutorando em Direito sob orientação da professora Vera Karam de Chueiri. Sua pesquisa ainda está em desenvolvimento e tem uma característica interdisciplinar ao aliar Direito e cinema. “Eu uso a linguagem cinematográfica como uma forma de discutir questões sobre o Direito e política, especificamente como narrativas autoritárias têm crescido no Brasil e a relação com eventos passados, como a ditadura militar. Eu uso o cinema para falar sobre o mundo contemporâneo como reflexo de narrativas do passado”, explica Antonio.

Direito e cinema perseguem o pesquisador desde a graduação quando trabalhou sobre a censura e processo de liberação de um filme no Brasil em 2011 em sua monografia. Já no mestrado tratou sobre o ataque aos professores no Centro Cívico em 29 de abril de 2015 pela polícia militar e estudou como esse momento recente da história brasileira reflete tendências autoritárias que existem há muito tempo no país.

“Conciliar Direito e cinema é uma forma mais direta para falar sobre autoritarismo e me permite usar uma linguagem de uma forma emocional de engajamento, que é muito inspirada na linguagem cinematográfica. Inclusive, eu produzi um curta-metragem para discutir os temas do meu doutorado como parte da pesquisa”, conclui o presidente da APG.

Foto destaque: Laboratório de Doenças Transmitidas por Vetores UFPR/Divulgação

Por Bruno Caron
Edição: Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing e Agência Escola de Comunicação Pública UFPR

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