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FEDERAL DO PARANÁ

Contra violações, especialistas em segurança na internet defendem trocar visão “adultocêntrica” por empatia com crianças e adolescentes

A Safernet Brasil – organização não governamental que atua para promover o uso ético, responsável e seguro da internet – já recebeu quase 4 milhões de denúncias de violações de direitos no ambiente digital, contra cerca de 701 mil páginas. O dado, que ainda não inclui os números deste ano, mostra o tamanho do desafio que a cidadania digital representa para quem trabalha com educação – tema de um seminário que aconteceu nesta sexta-feira (9) no campus Rebouças da UFPR.

Organizado pelo professor da UFPR Josafá Moreira da Cunha – coordenador do Projeto Aprendendo a Conviver, que capacita profissionais da educação para o enfrentamento da violência e do bullying no ambiente escolar –, o Seminário Cidadania Digital reuniu professores e estudantes de várias áreas interessados no tema.

A primeira mesa redonda reuniu o diretor de Prevenção da Safernet Brasil, Rodrigo Nejm – que também é professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia – e a procuradora regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, Ana Padilha.

A procuradora relatou sua experiência com o projeto “Violações de direitos pela internet”, que começou em 2009, em parceria com a Safernet. Durante quatro anos o projeto atuou com educação digital nas escolas. Cerca de 4 mil educadores, de 350 municípios brasileiros, receberam capacitação para lidar com situações em que crianças e adolescentes são vitimadas por algum tipo de violação de direito na internet.

O diretor de Prevenção da Safernet Brasil, Rodrigo Nejm, e a procuradora federal Ana Padilha. Fotos: Nicolle Schumacher – Sucom-UFPR

Segundo ela, as situações mais freqüentes são vazamento de nudes, revenge porn (pornografia de vingança), jogos-desafio (como Baleia Azul e Momo), desafios que estimulam pessoas a se arriscarem em situações perigosas e discursos de ódio (por exemplo, contra mulheres, negros, nordestinos e LBGTS).

O projeto agora encontra-se na fase de contato com universidades. “Não apenas para levar informações, mas também para plantar a semente da pesquisa sobre o tema”, disse Ana Padilha. “Precisamos entender, entre outras coisas, por que as pessoas se sentem tão mais à vontade para expressar ódio e violar direitos na internet do que numa relação pessoal.”

Para Rodrigo Nejm, da Safernet, a pesquisa é necessária para subsidiar os marcos regulatórios da internet com evidências. “Não se pode legislar com base em achismos ou pânico moral. Muitas vezes, em nome de uma suposta proteção se viola direitos, como de acesso à informação e de liberdade de expressão”, afirmou.

Nejm disse que muitas pessoas resumem suas preocupações com o ambiente digital à questão da pedofilia. Ele considera que esta é uma visão “adultocêntrica”, e que é preciso entender as vivências de crianças e adolescentes. “Não se pode menosprezar outras angústias que muitas vezes crianças e adolescentes estão enfrentando, como a humilhação pública por meio do bullying”, disse.

De acordo com Nejm, muitos pais e educadores acreditam que, por dominarem o acesso à tecnologia, crianças e adolescentes não precisam de acompanhamento. “Confundem o uso instrumental com questões de maturidade, de discernimento e habilidades emocionais, que ninguém nasce sabendo. E muitos adolescentes não dominam nem mesmo habilidades instrumentais básicas: pesquisas mostram que quase metade não sabe bloquear um contato e nem apagar o histórico de navegação. E mais da metade não sabe identificar uma notícia falsa”, afirmou Nejm.

Canais de denúncia e apoio

A Safernet mantém um canal para denúncias de violações de direitos na internet. É o denuncie.org.br. Qualquer pessoa pode fazer uma denúncia sem se identificar. Basta copiar e colar a URL (endereço do site ou página de rede social) onde a mensagem a ser denuncia foi publicada. Na mesma janela, deve-se selecionar um tema (pornografia infantil, racismo, incitação a crimes contra a vida, xenofobia, maus tratos contra animais, neo-nazismo, intolerância religiosa, homofobia, tráfico de pessoas, violência ou discriminação contra mulheres.

A organização possui ainda uma plataforma de apoio on-line para pessoas que sofrem algum ataque, preconceito ou humilhação na internet. Quase 16 mil pessoas já foram atendidas pela equipe do canaldeajuda.org.br, que é formada por profissionais especializados no tema. O atendimento pode ser feito por email ou por bate-papo com tempo real.

Jogos digitais

A segunda mesa redonda do seminário foi sobre “Educação e Mídias: promoção do respeito pela diversidade”. Participaram Jason Della Rocca, co-fundador do canadense Execution Labs, que nasceu como uma incubadora para desenvolvedores de jogos e evoluiu para uma empresa que oferece suporte a alguns dos melhores estúdios de jogos independentes da América do Norte e da Europa; a professora Lucina Reitenbach Viana, que coordena os cursos de Jogos Digitais e de Design de Animação da Unicuritiba, e o professor Josafá Moreira da Cunha, chefe do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da UFPR e coordenador do Projeto Aprendendo a Conviver, que está entre quatro propostas nacionais selecionadas pelo Ministério da Educação para a formação de profissionais da educação básica no campo dos direitos humanos e da diversidade.

Os jogos digitais também foram tema do seminário.

De acordo com o professor Josafá, o seminário é o primeiro passo para a articulação de uma rede voltada para a proteção de direitos. “Uma rede que, mais do que permitir o compartilhamento do que sabemos, nos permita esperar um futuro melhor. A promoção da cidadania dentro e fora das redes é fundamental. E é um privilégio para a UFPR poder colaborar com essa articulação”, afirmou.

Lorena Aubrift Klenk

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