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Debate sobre avaliação da pós-graduação marca primeiro dia do Foprop Sul, realizado na UFPR

Tratando de um tema que divide opiniões entre cientistas brasileiros, a mesa redonda sobre avaliação da pós-graduação marcou o primeiro dia do Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação (Foprop) Sul, cuja abertura ocorreu nesta segunda-feira (3) na UFPR, no Prédio Histórico. Boa parte da discussão foi em torno dos critérios da avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que desde 1998 enfatizam a produtividade científica e há alguns anos são debatidos em grupos de trabalho e comitês na instituição.

As questões levantadas têm relação com as novas necessidades da pós-graduação no Brasil, tendo em vista as mudanças sociais e o crescimento do número de programas no período — de cerca de 2 mil em 1998 para quase 6,5 mil em 2017, segundo a Capes. Desses, 889 estão hoje no Sul. Nesse contexto, pesquisadores defenderam que muitos eixos ganharam importância com o tempo, entre eles o impacto do programa na sociedade e a formação dos doutores.

Fórum reúne anualmente coordenadores de pesquisa e pós-graduação de instituições de ensino superior do Sul do país; na mesa de abertura: Paulo Brofman, presidente da Fundação Araucária; Joviles Trevisol, presidente do Foprop; Graciela de Muniz, vice-reitora da UFPR; Francisco Mendonça, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR; e Marcos Ventura Faria, presidente do Conselho Paranaense de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (CPPG). Foto: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

“Se a ciência produz impactos científicos, ambientais, econômicos, sociais, educacionais, culturais, artísticos e de inovação, é evidente que a avaliação não pode olhar um único aspecto”, argumentou Glaucius Oliva, ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).

Nesse sentido, Sônia Nair Báo, diretora de avaliação da Capes e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), defendeu que a avaliação deve ter como ponto de partida o planejamento estratégico de desenvolvimento dos programas. A diretora também destacou a importância de as instituições determinarem em que áreas têm potencial para conquistar protagonismo — ou sua “vocação”.

“Creio que é um ponto chave: trazer para dentro da avaliação as vocações das instituições”, afirma ela, que ressalta a importância de se testar possibilidades. “Há coisas fáceis [de se medir] e outras difíceis, como as que não têm rastreabilidade ou que não se pode auditar, o que é muito importante”.

Por enquanto, entre as propostas da Capes apresentadas por Sônia estão: a revisão e o aprimoramento do sistema de avaliação, incluindo necessidade de alinhamento da avaliação e fomento; o equilíbrio de dimensões qualitativas e quantitativas; a redução do número de áreas de avaliação; a inclusão da auto avaliação; a avaliação de produção qualificada; e a revisão sobre o tempo de avaliação.

Multidimensional

Entre as diretrizes com que a Capes tem trabalhado, Sonia destacou a proposta de um modelo único e multidimensional de avaliação em que tenham espaço fatores como internacionalização, inovação e transferência de conhecimento, impacto econômico e social, formação de recursos humanos e produção científica.

Segundo Jorge Luís Nicolas Audy, que preside a Comissão Especial de Acompanhamento do Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) 2011-2020 da Capes, o modelo único multidimensional foi um dos pontos convergentes de uma consulta a cerca de 15 setores e entidades científicas, realizada em novembro de 2017. “[As sugestões] indicam um modelo de avaliação multidimensional que contemple a diversidade e a complexidade dos programas e do país”, diz Audy, pesquisador na PUCRS.

Ele destaca que, apesar de a consulta ter mostrado pontos de vista variados sobre mudanças que devem ser implementadas, existe consenso sobre a necessidade de a avaliação ser revista. “Todas as contribuições convergem no sentido que a avaliação é a responsável ou a principal responsável pela qualidade dos programas. Mas todos concordam que estamos em um momento de esgotamento que pede aprimoramentos”, diz. “É essencial para a evolução do sistema”.

Fomento

Também foram debatidos os impactos da dissociação entre a avaliação e o fomento — um item que está nas propostas da Capes. De acordo com Sônia Báo, “casar fomento e avaliação” deve ser ponto relevante da discussão, mas dentro de um “sistema bem pensado”, considerando o cenário de fragmentação dos programas no Brasil.

Segundo Audy, a questão surgiu no painel com entidades promovido pela comissão especial e trata de um “desequilíbrio [que] é extremamente perverso” porque causa desestímulo nas duas pontas — tanto nos programas que caem na avaliação, sem que isso impacte no fomento, quanto nos que sobem na nota, mas não sentem reflexos no apoio. “Ao longo do tempo, esse descolamento [entre avaliação e fomento] foi total. Temos programas com notas 6 e 7 com poucas bolsas e programas que tiveram nota alta, mas caíram, com cem bolsas”, compara.

Empreendedorismo

Glaucius Oliva também levantou a questão da relação entre academia e mercado, especialmente no que diz respeito à criação de postos não acadêmicos para pesquisadores. Na visão de Oliva, é necessário que os programas pensem em estimular opções de carreira para doutores (hoje restritas), por meio de iniciativas como estágios em empresas e a instalação de incubadoras e startups na pós-graduação.

Segundo o pesquisador, essa meta é um desdobramento do impacto social que os programas devem buscar, até como forma de garantir contribuição mais direta para a sociedade e a economia. “Poderia ser até um critério [de avaliação]: quais são os programas que mais posicionam doutores no mercado de trabalho?”, sugere. Oliva pondera que, para isso, seria preciso repensar o tempo de formação como critério de avaliação e os programas teriam que rever posturas. “Os coordenadores vão continuar achando ruim [conceder tempo para o doutorando estagiar], mas temos que romper paradigmas”.

Abertura

A abertura oficial contou com a presença da vice-reitora da UFPR, Graciela de Muniz, além do pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da instituição, Francisco Mendonça, e os professores Paulo Brofman, presidente da Fundação Araucária; Joviles Trevisol, presidente do Foprop;  e Marcos Ventura Faria, presidente do Conselho Paranaense de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (CPPG).

Renato Janine Ribeiro defendeu que programas priorizem projetos com potencial para internacionalização. Foto: Vanessa Barazzetti/Fundação Araucária

Em seguida, o professor Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, fez uma conferência sobre a produção de conhecimento no mundo globalizado, na qual defendeu que os programas concentrem esforços em projetos que possam obter reconhecimento em nível mundial, em vez de optar por pulverizar as iniciativas. Ribeiro usou como exemplo o investimento do Instituto de Física da USP no projeto global de pesquisas com aceleradores de partículas.

“Penso que deveríamos discutir símbolos que possam agregar aos projetos de forma que eles sejam negociados em outros lugares do mundo. É crucial saber o que se quer”, sustentou. “Me parece que o ideal seja ter focos comuns que nos permitam pensar em ciências para além de um programa e de uma universidade, agregando discussão e promovendo avanços”.

Programação

Nesta terça-feira (4), a programação do Foprop Sul inclui mesa redonda a partir das 8h30 sobre financiamento e execução de financiamento da ciência e da tecnologia. Haverá a participação de Mario Neto Borges, presidente do CNPq; Marcos Cintra C. Albuquerque, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); Fernando Peregrino, presidente da Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies); José William Gomes da Silva, superintendente da Controladoria Geral da União (CGU); e Ricardo Jhum Fukaya, auditor federal de finanças da CGU. A professora Paula Trevilatto, da PUC-PR, coordenará a mesa.

A partir das 14 horas, haverá oficinas sobre internacionalização, relação universidade e sociedade; e sobre os desafios da pesquisa e do Novo Marco Legal da Ciência.

Está marcada para as 16h15 a plenária com apresentação dos grupos de trabalho, síntese do fórum e construção dos documentos Foprop Sul. O encerramento ocorrerá às 18 horas.

Consulte aqui a programação completa.

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