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FEDERAL DO PARANÁ

Consciência Negra: Servidor técnico da UFPR TV recebe certificado de reconhecimento profissional

Curiosidade e determinação de Appolinário são reconhecidas pela universidade (Fotos: Marcos Solivan – SUCOM/UFPR)

A curiosidade e a determinação em procurar o que chama de “um servidor de stream perfeito” levou o carioca José Carlos Appolinário a trocar o Sudeste pelo Sul e a se estabelecer definitivamente na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dono de uma voz grave, carregada de sotaque, ele é modesto quanto às qualidades que lhe renderam o “Certificado de Reconhecimento Profissional”, entregue pelo reitor Ricardo Marcelo Fonseca e pela vice-reitora Graciela Bolzón de Muniz, em ato solene que marca também a programação do mês da Consciência Negra: atribui às parcerias e esforços coletivos a oportunidade de ter desenvolvido um trabalho pioneiro.

Appolinário faz parte de um projeto inovador. Desde que esteve pela primeira vez na UFPR, em visita técnica, construiu pontes que permitiram que o contato se estendesse por anos. A ideia era conhecer a experiência da UFPR TV e levar sugestões para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atuava desde a década de 1980. Publicitário de formação, ele havia encontrado na televisão um foco de interesse para desenvolver novos projetos.

“Voltei cheio de ideias, mas não consegui concretizar. Em 2013, arrumei as malas e vim”, conta. Em Curitiba, assumiu o desafio de pensar e propor soluções para um servidor de stream – transmissões online – que não dependesse de plataformas tradicionais. A pesquisa de softwares e de equipamentos e a obstinação por um “sistema robusto, dedicado e, principalmente, que fosse totalmente livre”, começou a dar certo e vingou.

“Nossa primeira transmissão pesada foi a do Festival de Antonina, em 2017. Sempre gostei de montar e desmontar coisas, de criar estruturas. E, claro, sempre contei com muitas pessoas que me apoiavam”, revela, salientando a parceria com o professor Carlos Rocha, Superintendente de Comunicação.

Hoje, o trabalho desenvolvido por Appolinário produz frutos que contribuem com toda a comunidade universitária. Com baixo investimento e fazendo uso de softwares livres, o sistema possibilita a transmissão de aulas online e de eventos externos, sustenta a programação da UFPR TV e é responsável por levar ao ar as reuniões dos colegiados superiores. “Foi um trabalho de desenvolvimento e de experimentação de tecnologia, que nos deu como principal vantagem a independência”, resume.

Autoditada, curioso da informática e obstinado nas leituras para compreender novos sistemas, ele continua procurando desafios. “Queremos total independência, por isso estamos estudando uma forma de disponibilizar todo o nosso acervo videográfico em uma plataforma de vídeos independente”.

“Roubar minha cor é roubar minha herança”

Nascido no Morro do Timbaú, no Complexo da Maré, Appolinário passou a maior parte da vida na região de Bonsucesso, Zona Norte do Rio de Janeiro. Filho de mãe doméstica, que aprendeu a escrever com ele, e de um pai que, no leito de morte, fez a companheira prometer que iria lutar para que o garoto concluísse o secundário, desde cedo se encantou pelo cinema e pela História.

O preconceito sempre fez parte da sua vida, de alguma forma. “Se você é preto tem que ser muito bom. Não basta fazer a coisa certa, isso é sua obrigação. Você precisa ser o melhor dos melhores”. Na faculdade de Publicidade, por exemplo, só tinha três colegas negros. “Fui um dos primeiros da família a ter formação secundária. A faculdade, então, fugiu completamente do padrão”, recorda.

Além do racismo velado – aquele que faz as pessoas lhe pedirem um café confundindo-o com trabalhador doméstico – , Appolinário se incomoda com quem o qualifica como moreno ou pardo. “Eu sou negro. Roubar minha cor é roubar minha herança”, resume. “Este preconceito parece estar embutido no DNA das pessoas. Num carro bonito, negro nunca é dono, é motorista”, ilustra.

Aos 59 anos, vivendo com a filha de 23, já instalado em Curitiba, Appolinário conta nos dedos os colegas negros e atribui ao sistema de cotas um novo momento. Próximo da aposentadoria, mas longe de querer parar, ele acha que ainda tem muito a realizar, mesmo com 33 anos de serviços prestados à universidade pública. “Gosto da frase ‘o impossível é o lugar onde eu ainda não cheguei’. A minha vida é um eterno aprender”, sintetiza.

Ato solene celebra diversidade e inclusão

O ato solene do dia da Consciência Negra contou com a presença de representantes dos coletivos negros, professores, servidores técnicos e alunos da UFPR. A professora Megg Rayara Gomes de Oliveira, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, destacou a importância do NEAB e sua responsabilidade em assumir um debate importante em um cenário tão hostil para a população negra.

Megg reforçou que o núcleo é porta de entrada para homens e mulheres negros da universidade e que sua atuação promove uma inserção potente em todos os espaços da UFPR. O superintendente de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad), Paulo Vinicius Batista, também lembrou a importância do núcleo e fez menção às políticas de acolhimento no combate à discriminação, ao preparatório para a pós-graduação oferecido às minorias e à construção de toda uma agenda de avanços em um cenário tão perverso.

Appolinário recebe certificado das mãos do reitor e da vice-reitora da UFPR

O pró-reitor de extensão e cultura, Leandro Franklin Gorsdorf, ressaltou que o ato solene e a homenagem a Appolinário se insere numa articulação para a construção do mês da Consciência Negra, trabalho que se expande desde 2017 e que deve ser perpetuado.

O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, destacou o compromisso da UFPR com a inclusão e a importância de se pensar e respeitar a “dissemetria histórica” que marca a sociedade. “Em um cenário de absoluta desigualdade, queremos que as universidades públicas sejam um espaço colorido, de inclusão e de diversidade, e que a redução das desigualdades, aqui, sirva de guia para outras instituições da sociedade”.

Os discursos também celebraram a atuação e representatividade de Appolinário, visto como um exemplo pelos colegas e pelos coletivos negros. O servidor agradeceu a homenagem e disse que esse é um momento em que sua cor começa a aparecer, celebrando a alegria em se ver como representante de tanta gente. “O negro é a essência. É a liberdade”, disse.

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