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FEDERAL DO PARANÁ

Excelência UFPR: Cláudio José de Barros Carvalho, o pesquisador “eterno estudante” que participou dos achados de 200 novos insetos

A Universidade Federal do Paraná tem muitas áreas de excelência espalhadas por seus setores e campi. Entre elas estão laboratórios e grupos de pesquisa liderados por pesquisadores que alcançaram o topo da carreira no Brasil. São pesquisadores que, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), se destacam entre seus pares, alcançando o nível 1A, o mais alto na modalidade de bolsas Produtividade em Pesquisa. O portal da UFPR está publicando uma série de reportagens sobre os pesquisadores 1A da universidade e o trabalho científico que desenvolvem.

O pesquisador Cláudio José de Barros Carvalho era estagiário não remunerado no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1976, quando uma equipe foi enviada ao Norte do Mato Grosso para coletar insetos. A tarefa era preservar e analisar os espécimes que apareciam durante a abertura de estradas na região, muitos representantes ainda desconhecidos da diversidade da fauna brasileira. Ao estudar os insetos no Rio, Carvalho impressionou-se com a variedade de formas e tamanhos apresentada pela ordem díptera, da qual fazem parte moscas e mosquitos.

Foi o início do interesse de Carvalho por esse objeto de pesquisa na Entomologia. Quase 40 anos depois, já são mais de 50 orientações na pós-graduação stricto sensu, 180 artigos publicados em periódicos e uma coleção considerável de réplicas de moscas espalhadas pela sala no Departamento de Zoologia do Setor de Ciências Biológicas. Também dividem a sala os orientandos (que tocam suas pesquisas perto do professor) e fotografias de turmas em eventos Brasil afora e no exterior.

Biólogo e pesquisador de dípteros há 40 anos, Carvalho escolheu seu objeto de pesquisa durante estágio. Fotos: Samira Chami Neves/Sucom-UFPR

A satisfação em se apresentar próximo dos alunos tem explicação. Para Carvalho, a docência (que desenvolve na UFPR desde 1983) foi uma das boas surpresas que surgiram como consequência da atividade de pesquisador. Esta veio bem antes, uma vez que o pesquisador é bolsista do CNPq desde 1976, quando ainda era estudante. “A universidade me fez abrir a mente para o ensino”, conta Carvalho. “Em um congresso recente, pude constatar que muitos antigos orientandos já são professores de universidades públicas. É gratificante.”

A postura aberta no trabalho com alunos se manifesta também na expansão das áreas de pesquisa a que Carvalho tem se dedicado dentro do estudo de dípteros. O foco original sempre foi a taxonomia biológica — no caso, descrição, classificação e comparação desses insetos. Por consequência dessa atividade, Carvalho já deu nomes a pelo menos 200 novos dípteros, como autor ou coautor. Mais recentemente, porém, o pesquisador agregou aos seus interesses áreas como genética e ciência forense, sugeridas em projetos de alunos do stricto sensu.

“Por causa dessa ideias, comecei a ampliar certos conceitos que já usava”, diz Carvalho. Um deles é o de biogeografia, que, em sentido estrito e tradicional, diz respeito ao mapeamento da existência de certos seres vivos em determinada região. Em sentido lato, porém, a biogeografia ajuda a apontar áreas que precisam de preservação, entre outras possibilidades de pesquisa. Esse tipo de reposicionamento não parece ser problema para Carvalho, um curioso nato. “Ouvi do meu orientador de estágio, professor Dalcy Albuquerque, que ‘sempre somos estudantes’. É uma frase que nunca esqueci. Precisamos sempre estar estudando”.

Ruptura

A fim de ter tempo para estudar, Carvalho foi radical. Para estagiar no Museu Nacional do Rio de Janeiro, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), largou um emprego público na administração da concessionária de energia elétrica do Estado, a Light. “Tinha duas opções: ou ficava no emprego que era estável, mas muito chato e burocrático, ou seguia minha vontade de ser pesquisador, que tive desde a graduação”, diz ele, que se formou em Ciências Biológicas na Faculdades de Humanidades Pedro II (Fahupe), em 1976.

Nascido em uma família de recifenses que se mudaram para o Rio em busca de empregos melhores, Carvalho sabia o significado de poder contar com salário certo todo mês. Mesmo assim, seguiu seu desejo. “Joguei tudo para o ar e fui atrás de estágio, mesmo não remunerado”, lembra.

A primeira oportunidade foi no laboratório do professor Darcy de Oliveira Albuquerque, com quem aprendeu sobre o dia a dia do entomólogo. Entre as lições, como triar, etiquetar, usar armadilhas Malaise e Shannon ou ainda o efeito que o paraformaldeído — que conservava as coleções de insetos antes de ser substituído pela naftalina — tem sobre os olhos.

Conselhos

Outra tradição entre entomologistas brasileiros que Carvalho adotou por influência de seus professores é a participação em organizações de pesquisadores. Na Sociedade Brasileira de Entomologia, da qual é associado desde os anos 1980, o pesquisador participa atualmente também como editor assistente da Revista Brasileira de Entomologia, lançada em 1954.

“Participar de sociedades é uma oportunidade de conversar com pessoas que só se conhece de livros. É uma grande satisfação”, acredita Carvalho, que busca estimular o associativismo entre os jovens cientistas. Outro conselho recorrente é para que os pesquisadores aprendam línguas e viajem muito. Por causa da pesquisa, Carvalho já visitou 21 países, da Eslováquia à Inglaterra, onde fez pós-doutorado nos anos 1990.

“O chão, a base, o mínimo, é o inglês, que é a língua dos congressos de entomologia. E quem consegue se comunicar bem, não apenas quebrar o galho, consegue conversar melhor com as pessoas e fazer contatos”, diz. “Diferencial não é ficar no seu cantinho, porque o mundo é bem grande”.

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Conheça aqui outros pesquisadores 1A da UFPR (“Série Excelência”)

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