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FEDERAL DO PARANÁ

Cientistas trazem descobertas sobre Covid-19 em respostas para dúvidas da sociedade após mais de um ano de pandemia

Pesquisadores apontam avanços científicos com relação a vacinas, novas variantes, contaminação de pets e outros aspectos da doença

“Há cerca de um ano e meio, a Covid-19 sequer existia. Hoje, entretanto, sabemos como o novo coronavírus entra nas células, como ele afeta o sistema imunológico e os sistemas orgânicos, como o respiratório”. Conforme a professora Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mesmo que ainda existam questões sem respostas sobre a Covid-19, a ciência desvendou dilemas fundamentais acerca da doença até o momento.

Com objetivo de reconhecer as descobertas realizadas por pesquisadores durante a pandemia, os professores da UFPR responderam novamente a dúvidas enviadas pela sociedade em março e em abril do ano passado. Os esclarecimentos dos cientistas agora têm base em novas informações sobre o coronavírus, que ainda não eram conhecidas na época em que as perguntas foram elaboradas.

A ação faz parte da série de reportagens Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola UFPR, que busca aproximar a população do conhecimento produzido nas universidades. Além das questões levantadas em 2020 acerca do uso de máscaras, vacinas, contaminação de pets e outros temas, essa edição conta com novas perguntas sobre a pandemia.

De acordo com Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, o conhecimento científico acumulado durante décadas permitiu que o mundo estivesse preparado para enfrentar a pandemia.

Contudo, ele aponta que os atrasos nos sistemas de testagem, no desenvolvimento de vacinas e formas de terapias para os doentes no Brasil ressaltam a falta de investimento em ciência no país. “Espero que a forma como o mundo enfrentou a Covid-19 possa indicar aos nossos governantes que o investimento em ciência é fundamental e nos deixa preparados para quaisquer desafios que venham pela frente”, reconhece.

“Vivemos um desafio sem precedentes, mas avançamos muito. O desenvolvimento das vacinas foi acelerado e, em menos de um ano, temos várias vacinas em uso e outras tantas em fases finais de testes. Algo que só a ciência é capaz de proporcionar”, complementa Patrícia Dalzoto, professora do Departamento de Patologia Básica da UFPR, uma das pesquisadoras responsáveis por esclarecer as dúvidas da sociedade.

Assim como a professora Patrícia, participaram dessa edição do Pergunte aos Cientistas os professores Breno Beirão, também do Departamento de Patologia Básica da UFPR; Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia; Vânia Vicente, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia; Douglas Adamoski, do Departamento de Genética da Universidade; Sônia Raboni, do Setor de Ciências da Saúde; Alexander Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária; e Bernardo Montesanti de Almeida, médico do Serviço de Epidemiologia Hospitalar e da Unidade de Urgência e Emergência Adulto do Complexo Hospital de Clínicas da UFPR.

“O corona é um vírus potente ao ponto de causar a morte de uma pessoa saudável de meia idade com facilidade? Além disso, o que difere tanto a Covid-19 em questão de danos ao corpo de uma gripe forte?” (Leandro Brandão de Paula, 22 anos, contador, Curitiba-PR)
Douglas Adamoski, cientista UFPR – O coronavírus, assim como o vírus causador da gripe comum e outros, foi sofrendo pequenas alterações em seu material genético causadas por pequenos erros na hora em que o mesmo se multiplica nas células. Várias delas não ocasionaram diferença significativa no vírus final, mas algumas acabaram alterando alguns trechos da chamada proteína “Spike”, que é justamente o pedacinho do vírus que entra em contato com as nossas células para conseguir invadi-las. Dentre os vírus “errados”, alguns mudaram a Spike de tal forma que ela começou a interagir melhor com a proteína ACE2 de nossas células, permitindo um melhor “encaixe”. Isso trouxe como consequência uma facilidade ainda maior do vírus infectar uma pessoa, o que justifica o aumento do número de casos entre pessoas saudáveis e jovens, mesmo com uma exposição menor a ele. Além disso, com o mesmo número de cópias de si mesmo, o vírus consegue atingir com mais eficiência mais células, aumentando os riscos de causar efeitos mais graves, mesmo em pessoas com o sistema imune completamente funcional.

Clique aqui e assista a um vídeo sobre novas variantes do coronavírus, produção da Agência Escola UFPR na ação Pergunte aos Cientistas.

“Fiquei em dúvida quanto à recomendação de uso da máscara N95, pois havia compreendido que a máscara N95 tinha sua indicação apenas para profissionais de saúde prestando cuidados em procedimentos formadores de aerossóis” (Luciana Rodrigues da Cunha, 39 anos, psiquiatra, Belo Horizonte-MG)
Bernardo Montesanti de Almeida, cientista UFPR – Olá, Luciana. Considerando os atuais conhecimentos sobre a capacidade do SARS-CoV-2 de ser transmitido por aerossóis e que as máscaras N95, ou PFF2, possuem maior eficácia de proteção, hoje sabe-se que elas podem e devem ser utilizadas pela população, mesmo fora de instituições de saúde. O uso desse tipo de máscara é mais relevante em locais ou situações de maior risco, como ambientes pequenos, pouco ventilados e com muitas pessoas. Alguns países europeus instituíram em lei a obrigatoriedade de utilização dessas máscaras em transporte público. Há a barreira do custo, que dificulta a utilização no Brasil em grande escala, que pode ser amenizada com sua reutilização.

“Gostaria de saber se existe algum tecido que ofereça proteção equivalente à máscara, pois as pessoas poderiam confeccionar suas próprias máscaras já que estão em falta no mercado” (Cynthia Faria, 46 anos, estudante, Matinhos-PR)
Bernardo Montesanti de Almeida, cientista UFPR – Olá, Cynthia. As máscaras de tecido são bastante heterogêneas quanto à eficácia de proteção. Existem algumas que se equivalem às máscaras cirúrgicas, como as compostas por tripla camada, particularmente que contenham poliéster ou seda em sua composição. Esses tecidos possuem efeito eletrostático e, desta forma, além da barreira física, exercem atração das partículas de gotícula, que passam a ter mais dificuldade de atravessarem a máscara. Essas questões são altamente relevantes e não foram muito exploradas na comunicação para a população em geral, que acredita que todas funcionam da mesma forma.

“Já há estudos para uma vacina para o coronavírus? Esse remédio que tanto se fala pode tratar o vírus?” (Izelda Marcelina Faria, 43 anos, Mangueirinha-PR)
Breno Beirão, cientista UFPR – Avançamos muito no desenvolvimento de vacinas no período de um ano desde o espalhamento da Covid-19 pelo mundo. A pesquisa, a testagem e a aplicação comercial das vacinas contra o SARS-CoV-2 aconteceu em velocidade inédita na história. Desde a instauração dos métodos atuais de controle de qualidade para o lançamento de vacinas, nunca um produto havia sido criado e lançado em um período inferior a um ano. Isso aconteceu porque a crise instalada pela pandemia incentivou inúmeros grupos de pesquisa ao redor do mundo a buscar soluções contra a doença. Do mesmo modo, as agências reguladoras, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e comitês de ética em pesquisa, passaram a analisar os pedidos de testes e registros de imunizantes contra a Covid-19 de maneira prioritária, “furando” a fila de análise de outras pesquisas e produtos. O foco da sociedade dado à doença permitiu, assim, resultados dos quais a humanidade deve se orgulhar. Evidentemente, as vacinas que estamos usando hoje não nasceram “do nada”. Não houve milagres nem avanços atropelados, como se pode acreditar pela velocidade com que tudo aconteceu. A vacinologia já vinha progredindo rapidamente e silenciosamente ao conhecimento dos leigos. Quando a pandemia apareceu, bastou que se aplicassem os conhecimentos que os pesquisadores já haviam acumulado em décadas de pesquisas.
As epidemias anteriores de coronavírus (SARS e MERS) já nos haviam ensinado muito sobre o que seria necessário para que tivéssemos boas vacinas contra esses vírus. Mesmo pesquisas mais antigas e mais “básicas” (nem toda pesquisa tem uma aplicação imediata para a sociedade, mas constroem as bases para outros avanços) construíram uma plataforma de conhecimento sobre a qual nos apoiamos para estarmos hoje sendo vacinados contra essa doença. Novas vacinas ainda serão lançadas contra a Covid-19, diferentes e talvez melhores, porque essa é a função da pesquisa, seguir sempre avançando. Se chegamos aqui, foi porque todos nós escolhemos dedicar tempo e recursos da sociedade para que isso fosse possível.
Infelizmente, a descoberta de antivirais eficazes contra o SARS-CoV-2 seguiu ritmo mais lento, e o tratamento de pessoas com Covid-19 baseia-se ainda majoritariamente na redução dos sintomas e dos danos causados pelo vírus. Ainda assim, já houve avanços, e agentes como o antiviral “remdesivir” já tem comprovação definitiva de eficácia contra essa doença. Há uma dificuldade constante na pesquisa de agentes que tratam doenças virais (depois da infecção, ou seja, vacinas não entram nessa discussão, já que são preventivas e não terapêuticas). Há características próprias desses microrganismos que tornam difícil a descoberta de fármacos efetivos. Atualmente, o consenso científico é de que drogas como cloroquina e ivermectina têm pouca utilidade clínica. Como também é o caso com as vacinas, o estudo desses e outros fármacos seguirá, e é possível que novas descobertas sejam feitas nesse campo. Nesse ponto, o leitor deve observar algo sobre o que sabemos dos agentes antivirais. A sociedade passou a acompanhar o funcionamento das pesquisas científicas apenas agora, e muitas vezes há a impressão de que nenhuma informação é confiável e de que a ciência está sempre “mudando de opinião”. Pelo contrário, a ciência busca não emitir opinião, mas fatos, e os resultados que são passados à sociedade são sempre o melhor conhecimento que temos neste momento. Evidentemente, não estamos presos às informações que temos hoje. No futuro, novas pesquisas poderão trazer agentes antivirais novos ou jogar luz sobre o funcionamento de antivirais que já estão à disposição.

“Os atendentes dos supermercados estão expostos diariamente à Covid-19. Desta forma é possível que mesmo não tendo os sintomas já tenham sido contaminados e já estejam imunes? Há algum teste sendo realizado neste sentido?” (José Simão de Paula Pinto, 57 anos, professor, Curitiba-PR)
Sônia Raboni, cientista UFPR – José, a infecção assintomática ou com sintomas leves é possível entre os indivíduos expostos ao vírus, sendo que profissionais que têm contato frequente com diversas pessoas apresentam maior risco de infecção e podem já apresentar anticorpos contra o novo coronavírus. No entanto, hoje não dizemos mais que a presença de anticorpos anti-coronavírus torna a pessoa imune a essa infecção. A quantidade de anticorpos produzida após uma infecção usualmente não é muito alta e, provavelmente, não tem longa duração. Atualmente podemos afirmar isso porque foram relatados e comprovados casos de reinfecção em algumas pessoas. Estudos realizados com indivíduos que tiveram a infecção e aqueles que receberam a vacina demonstram claramente que a quantidade de anticorpos presentes no primeiro caso é menor do que aquela encontrada em pessoas que receberam a vacina. Assim, a vacinação é mais eficiente em imunizar os indivíduos do que ter a doença propriamente dita. De qualquer forma, por sabermos do risco de reinfecção, além de ainda não sabermos a duração desses anticorpos, recomenda-se a vacinação para as pessoas mesmo que já tenham se infectado, assim como que esses continuem utilizando as medidas não farmacológicas, como uso de máscara, desinfecção de mãos com álcool gel e distanciamento social para prevenção de novas infecções.

“Quanto tempo o vírus permanece vivo na mão e permanece nas superfícies?” (Simone Moraes Christini, 46 anos, decoradora autônoma, de Curitiba-PR, e Mariana Thais Megel, 20 anos, estudante, de Curitiba – PR)
Vânia Vicente, cientista UFPR – Depende do tipo de superfície: o coronavírus pode sobreviver de horas até vários dias em certas superfícies e outros fatores como umidade e temperatura. Por isso, é recomendado limpar superfícies com água e sabão e, em seguida, desinfetar com álcool 70% ou usar produto de limpeza de uso geral. Entretanto, devemos ressaltar que as mãos representam um veículo de infecção, pois, se você pode tocar olhos e nariz em um intervalo reduzido antes de higienizá-las, você pode se contaminar. Por isso fiquem atentas sobre a importância lavar as mãos frequentemente e usar álcool em gel. Além disso, é muito importante que se tenha conhecimento sobre as fontes de contaminação ambiental e da necessidade de aumentar as medidas de desinfecção desses locais, por meio de limpeza frequente e uso de antissépticos eficazes, para diminuir a carga viral e de se manter as medidas preventivas pela população visando diminuir o risco de exposição ao vírus.

“O vírus sobrevive em ambiente externo? Recebi uma imagem afirmando que pode ser até nove dias e achei que pode ser um tempo muito grande” (Ana Carolina Rodrigues, 23 anos, estudante, Curitiba-PR)
Vânia Vicente, cientista UFPR – Olá, Ana Carolina. Há estudos mostrando que o coronavírus persiste com sua infectividade em superfícies como metal, vidro ou plásticos por até nove dias, mas em ambiente seco isso cai para seis dias. Em materiais porosos, como papel, a sobrevivência é bem menor. Porém, o vírus pode ser eficientemente inativado em apenas um minuto pela desinfecção destas superfícies com álcool 62% a 71%, peróxido de hidrogênio (água oxigenada) 0,5% ou hipoclorito de sódio (Q-Boa diluída 20 vezes) a 0,1%.
Um trabalho recente desenvolvido por pesquisadores da UFPR a respeito da circulação do vírus em ambientes odontológicos e hospitalares de Curitiba demonstrou que, nos locais onde havia uma intensificação de medidas de desinfecção por meio de limpeza frequente e uso de antissépticos eficazes, ocorria uma diminuição da carga viral. Assim, os pesquisadores ressaltam a importância dos procedimentos de desinfecção ambiental visando diminuir a exposição ao vírus e, consequentemente, o risco de infecção.
Os resultados positivos de análises ambientais podem ser utilizados como uma forma de alerta para população sobre essa fonte de contaminação e da importância das medidas de limpeza frequente e uso de antissépticos, além da necessidade de se manter as medidas preventivas como uso de máscaras, distanciamento e higiene constante das mãos.

“Gostaria de saber mais sobre a reinfecção. Se eu estiver infectada hoje testando positivo para a Covid-19, fizer o tratamento e passar a testar negativo, posso ir ver meus pais sem medo de eventualmente desenvolver a doença novamente?” (Fabiana Santos, 36 anos, bioquímica, Curitiba-PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Fabiana. Evidências científicas sobre reinfecção pelo SARS-CoV-2 e casos de reinfecção foram relatados, inclusive no Brasil, especialmente entre profissionais de saúde que estão na linha de frente da pandemia. Dois estudos recentes, do Reino Unido e do Qatar, cada um abrangendo cerca de 40 mil indivíduos com teste positivo para Covid-19, estimaram a taxa de reinfecção de 0,7%. Embora a taxa seja baixa ou rara, há preocupação se as novas variantes do coronavírus podem infectar quem já foi contaminado com a cepa viral original, e qual a gravidade dessa reinfecção. Nesse contexto, outro estudo concluiu que a reinfecção com diferentes cepas é possível, e alguns casos podem apresentar infecções mais graves no segundo episódio. Também há dúvidas se um paciente que manifesta sintomas pela segunda vez foi de fato reinfectado ou se houve reativação da primeira infecção, e quais são os fatores que efetivamente levam determinados pacientes a apresentarem a doença mais de uma vez ainda. As descobertas recentes sugerem que a Covid-19 pode continuar a circular em uma região mesmo após atingir a imunidade de rebanho por meio de infecção natural ou vacinação, sugerindo a necessidade de mais esforços para mitigar a transmissão. Portanto, mesmo após recuperação de infecção pela Covid-19 ou após vacinação, temos que continuar com os cuidados básicos (uso correto de máscaras, higienização e redução de contatos sociais), para evitar reinfecções. No seu caso, você deve respeitar os 14 dias de isolamento antes de ter contato com outras pessoas que não sejam do seu convívio domiciliar.

“Tenho um gato que fica pouco dentro de casa e sai algumas vezes na rua. Como agir? Qual o risco de trazer contaminação para os moradores da casa?” (Débora Ávila de Carvalho, médica, 60 anos, Pouso Alegre-MG)
Alexander Biondo, cientista UFPR – Olá, Débora. O vírus SARS-CoV-2, que é o causador da Covid-19 nas pessoas, pode infectar cães e gatos, principalmente pelos seus tutores infectados (e não contaminados, que é o termo usado para inanimados como toxinas, químicos e metais pesados), mas os pets têm raramente desenvolvido a doença. Além disso, não há descrição até hoje de transmissão do novo coronavírus proveniente de cães ou gatos para pessoas, mesmo seus tutores.
No Brasil, até o momento (21/05/2021), um total de 13/90 (14,4%) cães e 8/53 (15,1%) gatos de tutores positivos foram testados e foram positivos, em um estudo multicêntrico coordenado pela UFPR em cinco capitais estaduais: Curitiba, Campo Grande, Belo Horizonte, São Paulo e Recife.
Recentemente, a morte de dois gatos por SARS-CoV-2 foi confirmada: um gato de quatro meses de vida da raça Ragdoll (de um total de 387 gatos testados) de um tutor clinicamente doente, mas não testado, e outro gato (de um total de 3.625 animais testados e 94 pets positivos) sem comorbidade e que foi eutanasiado pela severidade da condição clínica. Esse último estudo concluiu que, em raras circunstâncias, o vírus SARS-CoV-2 pode contribuir ou causar morte em gatos com comorbidades. No entanto, como já comentado, até o momento (21/05/2021), não há registro de transmissão de gatos para seres humanos, mesmo seus tutores de maior contato.
Com relação às demais doenças, é importante que o gato seja vacinado e desverminado anualmente, receber antipulgas sempre que necessário e fazer visitas regulares ao seu médico veterinário.

“Eu e meu marido ajudamos a cuidar de uma cachorrinha idosa que pertence a um batalhão de polícia. Durante o dia ela fica na secretaria onde trabalham alguns policiais e também transita pelo batalhão, mas à noite e aos fins de semana fica na nossa casa. A cachorrinha pode ser um risco de contágio pelo fato de viver nos dois ambientes?” (Maria Aparecida S. Vergueiro Oliveira, 63 anos, coordenadora editorial, Santo André-SP)
Alexander Biondo, cientista UFPR – Olá, Aparecida. Até o momento (21/05/2021), no mundo todo, foram relatadas infecções naturais pelo SARS-CoV-2 apenas nos seguintes animais: 419 visons de fazendas, 115 gatos e 81 cães, 27 felinos selvagens, três gorilas, um ferret e um visom selvagem.
No Brasil, um total de 13/90 (14,4%) cães e 8/53 (15,1%) gatos de tutores positivos foram testados e foram positivos, em um estudo multicêntrico feito em cinco capitais estaduais: Curitiba, Campo Grande, Belo Horizonte, São Paulo e Recife. Nesse estudo, cães e gatos foram mais predispostos quando tiveram maior contato com seus tutores, particularmente dormindo na mesma cama e trocando “beijos e lambidas”.
Com relação às demais doenças, é importante que essa cachorrinha seja vacinada e desverminada anualmente, receba antipulgas sempre que necessário e faça visitas regulares ao seu médico veterinário.

“Sobre a prática de exercícios ao ar livre, como caminhada, andar de bicicleta ou correr, é permitido? Além disso, crianças podem brincar no parquinho do condomínio ou na areia da praia?” (Caroline Portela, 36 anos, professora, Matinhos-PR)
“Estou ficando ao máximo em casa, tem algum problema andar de bicicleta? Saio apenas para me exercitar, e durante o percurso não falo com ninguém” (Rodrigo Carvalho)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Caroline e Rodrigo. Hoje, acredita-se que a prática de atividades físicas ao ar livre, respeitando o distanciamento social, não é responsável por um grande aumento nas taxas de infecção pelo SARS-CoV-2. A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que é importante se manter ativo durante a pandemia e exercícios ao ar livre são recomendados, sempre com o uso de máscara e mantendo um distanciamento mínimo de dois metros de outras pessoas. Evitar aglomerações ainda é necessário, mesmo ao ar livre.

“Já vi que podemos reutilizar a máscara N95 ou PFF2 se esperarmos no mínimo 72h entre um uso e outro. Minha dúvida é: utilizar lysol spray nelas afeta em alguma coisa? Ou posso utilizar tranquilo? A outra dúvida é referente àquelas máscaras com filtros para químicos, de proteção PFF3. Especificamente estava pensando em comprar esse modelo. Ela funcionaria contra o corona? Se sim, depois de quantas utilizações teria que trocar o filtro? Imagino também que posso fazer o uso prolongado dela, ou não? Pergunto porque como faço plantão de 24 horas e atendo o público, tenho que trocar de máscara muitas vezes” (Carlos Alexandre Lorenzetti, 42 anos, agente administrativo da Polícia Federal e trabalho na imigração de aeroporto, Brasília-DF)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Carlos. Você não deve passar nenhum produto na máscara PFF2, pois o uso de produtos químicos pode danificar a máscara, fazendo com que ela perca sua eficiência. Antes de utilizar a máscara novamente, basta deixá-la em local arejado por 72 horas. Fique atento se a máscara não se encontra danificada e se continua aderindo bem ao rosto.
As máscaras com válvulas não são recomendadas para proteção contra a Covid-19, pois a válvula respiratória filtra somente o ar que entra e não filtra o ar que sai. Desse modo, se a pessoa estiver contaminada, vai liberar partículas virais no ambiente.
A máscara mais indicada para o seu caso é a PFF2 (N95), pois ela garante a maior proteção, uma vez que você trabalha em contato direto com o público. Nesse caso, você também deve trocar a máscara a cada duas a três horas, ou antes, se estiver úmida.

“Gostaria de saber: eu posso guardar roupas que foram compradas recentemente em meu quarto e ligar ventilador ou ar-condicionado? As roupas estão num canto, e eu não estou manuseando a caixa da loja nem nada. Tenho preocupação que o vírus suba pelo ar como a poeira” (Douglas Ferreira, 27 anos, arquivista, Duque de Caxias-RJ)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Douglas. Estudos recentes demonstraram que a maior fonte de contaminação pelo SARS-CoV-2 é o contato com pessoas contaminadas, daí a importância do distanciamento social e do uso de máscaras.
Embora seja possível que o vírus permaneça em superfícies, por períodos que podem variar de horas a dias, a chance de contaminação é muito menor. A carga viral nesses objetos, quando presente, em geral é pequena. Portanto, você pode manusear e usar as roupas, lembrando sempre de higienizar as mãos com frequência.

“Se meu pai tomou a primeira dose da vacina da Astrazeneca, ele tem que esperar a segunda dose para depois tomar a vacina da gripe? Isso porque estão ofertando a da gripe comum no trabalho dele” (Jason Lee Furuie, 34 anos, técnico de laboratório, Curitiba-PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Jason. Que bom que seu pai começou a imunização contra a Covid-19. A recomendação do Ministério da Saúde é um intervalo de 14 dias entre uma vacina e outra. Ambas as vacinas são importantes, pois quem já tomou a vacina contra o novo coronavírus não está protegido contra a gripe (Influenza), e vice-versa, pois se tratam de vírus diferentes. A vacina da gripe, que já está sendo aplicada em várias cidades seguindo o calendário nacional de vacinação, protege contra os vírus H1N1, H3N2 e Influenza B, enquanto a vacina AstraZeneca/Oxford protege contra o vírus SARS-CoV-2. Como não há estudos disponíveis sobre as reações provocadas pela aplicação simultânea dessas duas vacinas, o intervalo de duas semanas é recomendado. Como seu pai já recebeu a primeira dose da vacina AstraZeneca/Oxford, que tem um intervalo de três meses até a segunda dose, nesse período poderá receber a vacina da gripe (Influenza), porém deverá observar as datas, para que a vacina da gripe fique distante pelo menos 15 dias da primeira e da segunda dose da vacina da Covid-19.

“Tenho uma dúvida: caso não possamos tomar banho logo ao retornarmos do supermercado, podemos ter algum problema de saúde se passarmos álcool líquido 70% no corpo?” (Shirlei Silva)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Shirlei. O álcool 70% em gel ou líquido é eficaz para destruir o coronavírus. Por isso seu uso é recomendado quando não há possibilidade de lavar as mãos com água e sabão ou sabonete, que também destroem os vírus. O SARS-CoV-2 é inativado mais rapidamente nas superfícies da pele do que em outras superfícies (aço inoxidável/vidro/plástico), sendo completamente inativado na pele humana em 15 segundos pelo tratamento com álcool. Dois aspectos são relevantes na sua pergunta:
1) Álcool pode agredir a pele e causar acidentes:
O álcool gel é o mais indicado para higienizar as mãos, enquanto o álcool líquido é mais adequado para a limpeza de superfícies. É importante saber que o álcool em concentração inferior a 70% não funciona para desinfecção e acima de 90% pode provocar irritações na pele. O uso crescente de álcool para desinfecção de mãos na pandemia, mesmo a 70%, aumentou a incidência de problemas dermatológicos, como eczema e dermatite de contato irritante, em profissionais de saúde e na população em geral. O uso de álcool em toda superfície corporal para desinfecção não é recomendado, e sim apenas seu uso nas mãos, que devem ser também hidratadas para reduzir as chances de dermatites.
Vale ressaltar que, independentemente da concentração do álcool, deve-se ter muito cuidado no seu manuseio. Além dos problemas dermatológicos, o álcool pode acarretar incêndios, queimaduras ou acidentes. Então o produto precisa ser mantido longe do fogo e de outras fontes de calor.
2) Contaminação através de produtos e embalagens:
Sua preocupação de trazer contaminantes do supermercado para casa e de tomar banho em seguida é válida. No entanto, atualmente sabe-se que a chance de infecção através de superfícies contaminadas é mínima. A contaminação poderia ocorrer caso você tocasse em superfícies contaminadas e levasse a mão aos olhos, nariz ou boca, que são portas de entrada do vírus. Porém, já se reconhece como pequeno o risco de contaminação por objetos contaminados. A principal via de contaminação é aérea, por aerossol e pelo contato próximo com pessoas infectadas. Por isso, após fazer compras, manusear embalagens de alimentos, ou antes de preparar ou comer alimentos, deve-se lavar abundantemente as mãos ou usar sanitizantes para mãos (por exemplo, álcool gel 70%), pois caso algum produto esteja contaminado, não serão eles que diretamente transmitirão o vírus, e sim as mãos que tocarem em embalagens/alimentos contaminados e que forem levadas à boca, olhos ou nariz. Assim, atualmente não se julga necessário tomar banho ou trocar todas as roupas logo que chegar em casa para evitar infecção pelo coronavírus, e sim dar maior atenção à higiene das mãos.

“Pessoas físicas podem colaborar com o projeto de desenvolvimento da vacina?” (Eliane Lopes da Silva, 49 anos, técnica de laboratório, Curitiba- PR)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Elaine. Para participar como voluntário nos testes de vacinas, é necessário passar por uma triagem, visando cumprir alguns requisitos importantes. Por exemplo, no Brasil, a prioridade é para os profissionais da área da saúde, por estarem em contato direto com o vírus e, portanto, mais sujeitos à infecção. Para ser recrutado, o profissional de saúde deve estar atuando na linha de frente de combate à Covid-19; não pode participar de outros estudos clínicos; não pode ter sido infectado anteriormente; se for mulher, não pode estar grávida ou planejar engravidar nos três meses seguintes ao teste; não pode ter doenças instáveis ou usar medicamentos que alterem a resposta imune; e, ainda, deve morar perto dos centros de pesquisa que conduzem o estudo.

Para ler mais respostas de pesquisadores sobre a Covid-19, acesse aqui outras reportagens da série Pergunte aos Cientistas

Por Isabela Stanga
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública da UFPR