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Ciência UFPR: Cientistas encontram evidências de acúmulo de gás metano na Baía de Paranaguá

O ano de 2020 apresentou o maior aumento registrado de gás metano na atmosfera desde que as medições começaram em 1983. Os dados são da Agência de Administração Oceânica e Atmosférica (Noaa), dos Estados Unidos.

A análise dos níveis de emissão de gases do efeito estufa mostra que o aumento anual do gás metano foi de 14,7 partes por bilhão (ppb). O metano possui eficiência de aquecimento aproximadamente 25 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) e tem significativa contribuição para as mudanças climáticas globais.

Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná encontrou pela primeira vez evidências de acúmulo de gás metano nos sedimentos depositados no fundo do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR), uma das mais importantes baías do Brasil. A pesquisa recém-publicada na revista científica Geo-Marine Letters integra o projeto “Panorama Histórico e Perspectivas Futuras Frente à Ocorrência de Estressores Químicos Presentes no Complexo Estuarino de Paranaguá (EQCEP)”, um de oito selecionados pela chamada pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Nº 21/2017 – Pesquisa e Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis nas Baías do Brasil.

Aquisição sísmica em larga escala: processo utilizado pelos pesquisadores para identificar o acúmulo de gás metano no fundo da baía 1) fonte da onda sonora; 2) reflexão da onda sonora; 3) receptores. Em escalas menores, como a realizada na baía de Paranaguá, o equipamento é menor e serve como fonte e receptor ao mesmo tempo. Imagem: Science Examiner

“Uma grande quantidade de matéria orgânica é carregada pelos rios, uma vez depositada nos sedimentos, essa matéria orgânica sofre decomposição por microrganismos, gerando o gás metano”, afirma o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos da UFPR e primeiro autor do artigo, João Fernando Pezza Andrade.

Uma parte do gás produzido pode escapar para a água e, eventualmente, chegar à atmosfera, mas uma parte fica presa nos sedimentos e se acumula ao longo do tempo. No caso da Baía de Paranaguá, os pesquisadores observaram a presença do gás em diferentes profundidades da coluna sedimentar, o que sugere que parte desse gás foi produzida pela decomposição de matéria orgânica depositada há milhares de anos.

O projeto é desenvolvido por equipe multidisciplinar formada por pesquisadores da UFPR, Universidade de São Paulo e Universidade Federal de Santa Catarina, que busca ampliar o conhecimento sobre os impactos das ações humanas na Baía de Paranaguá, propiciando subsídios para a tomada de decisões quanto a conservação e uso sustentável do ambiente costeiro.

Ondas sonoras e os sedimentos

A técnica para explorar o fundo de zonas submersas envolve o deslocamento do som e sua interação com a água e os sedimentos. Os pesquisadores utilizam equipamentos que emitem ondas sonoras e registram o tempo que leva entre a onda sair do equipamento, refletir em uma superfície, por exemplo o fundo da baía, e voltar para o equipamento.

“Se soubermos a velocidade de deslocamento do som, conseguimos descobrir a distância entre o equipamento e a superfície onde o som refletiu. Ao fazer isso ao longo de uma linha de navegação, obtemos um perfil sísmico, como se fosse uma fotografia do que há abaixo do fundo da baía”, explica Andrade. A metodologia, em escalas espaciais diferentes, é similar à que a Petrobras utilizou para descobrir os depósitos de óleo do Pré-Sal.

Em 2019, o grupo do Centro de Estudos do Mar obteve 156 quilômetros dos perfis sísmicos, durante três dias de navegação ao longo da Baía de Paranaguá. Ao analisar os dados, encontraram mudanças no comportamento das ondas sonoras em algumas regiões e identificaram essa alteração como indicativo da presença de gás nos sedimentos. “A presença de gás nos sedimentos modifica a trajetória de deslocamento das ondas sonoras, deixando verdadeiras assinaturas sísmicas nos perfis que estudamos”, destaca João. Na literatura, tais assinaturas encontradas em regiões costeiras submersas são comumente associadas ao gás metano.

Apesar de os resultados indicarem a presença de gás metano nos sedimentos, a docente Renata Hanae Nagai, co-autora do trabalho, lembra que ainda é necessário investigar mais a fundo a área para confirmar se o gás presente nos sedimentos da Baía de Paranaguá está escapando para a coluna d’água. “Se a resposta for sim, a que taxas? Caso contrário, quais são os mecanismos que promovem o aprisionamento do metano nos sedimentos?”, ressalta.

Confira a reportagem completa na revista Ciência UFPR neste link.

Veja mais reportagens da revista eletrônica aqui.

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