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Biblioteca Nacional premia professor do Depac por tradução de autobiografia de Goethe

A tradução da autobiografia de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), um dos autores mais importantes da literatura alemã, rendeu ao professor Maurício Mendonça Cardozo, do Departamento de Polonês, Alemão e Letras Clássicas (Depac) da UFPR, o Prêmio Literário “Paulo Rónai” 2018, da Biblioteca Nacional (BN). Os vencedores do Prêmio Literário 2018 foram revelados em novembro e a cerimônia de entrega ocorreu no último dia 4, no Rio de Janeiro. Cardozo foi premiado pela tradução de “De minha vida: poesia e verdade”, escrito por Goethe no início do século XIX, em versão lançada pela Editora da Unesp em 2017 dentro de uma coleção sobre o escritor.

Ao receber o prêmio, Cardozo comentou que uma “dose considerável de teimosia” interliga a longevidade do prêmio da Biblioteca Nacional (entregue desde 1994), a coragem da editora pelo lançamento da coleção e a tarefa de traduzir o livro. “Espero que essa teimosia possa contagiar os leitores na travessia dessas quase mil páginas de uma autobiografia que é também [uma espécie de biografia] da época em que Goethe viveu”. Foram precisos cinco anos de trabalho para a tradução — dois anos para pesquisa sobre o autor e outros três voltados à construção do texto.

O jovem Johann Wolfgang von Goethe, em pintura feita entre 1775 e 1776. Imagem: Reprodução/Museu Frankfurter Goethe-Haus

No livro, o escritor alemão retoma o início da sua vida, da juventude até sua mudança para a cidade de Weimar (depois de 1775), em uma narrativa ampla que inclui da sua intimidade amorosa e familiar até uma profunda contextualização histórica da Alemanha na época. Enquanto estava vivo, Goethe acompanhou as grandes transformações do que, mais tarde, viria a constituir a Alemanha, com o início da Revolução Industrial e as mudanças políticas, econômicas e sociais que ela trouxe.

Um jovem qualquer

O autor começou a escrever suas memórias aos 60 anos, já consagrado internacionalmente por obras como, por exemplo, “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774) e “Fausto” (1790-1832) — o primeiro lhe rendeu fama; o segundo, reconhecimento.

Cardozo ressalta que palavras como “clássico” ou “cânone”, tão usadas para tratar de Goethe, podem soar como algo distante demais do leitor. No livro, porém, o autor expõe a criança, o adolescente e o jovem adulto que foi, com problemas que, respeitadas as diferenças de época, são universais, entre eles a relação com os pais e os conflitos amorosos.

O professor Maurício Mendonça Cardozo durante a entrega do prêmio, no dia 4. Foto: Reprodução/YouTube Fundação Biblioteca Nacional

“Goethe ainda é muito pouco lido hoje e um problema central disso é o distanciamento com que nos acostumamos a tratar dele. Mas a pessoa do livro passa por dilemas muito humanos”, diz o professor. “A voz que fala é de um menino, de um adolescente apaixonado a cada capítulo por uma menina diferente, de um jovem adulto que sai de sua cidade para estudar em duas faculdades diferentes e tem sonhos. É um escritor de que devemos tirar um pouco do ‘mofo’ porque ele tem muito a dizer ainda hoje”.

“De minha vida” também se destaca por trazer uma contextualização histórica da Alemanha, com informações preciosas que reconstituem grandes transformações da Europa da época — as mudanças sócio-econômicas e a sucessão de reis e regimes políticos, por exemplo. Outra marca do livro é o que ele representa como concepção de escrita autobiográfica, o que se coloca como questão até hoje para escritores e pesquisadores.

Desafio

Para Cardozo, um desafio da tradução foi achar o regime do português coloquial contemporâneo para chegar a um paralelo com a linguagem adotada no livro. “Um registro empolado não faria sentido porque Goethe não é pedante, ele só domina muito bem a língua da sua época”, diz. Encontrar termos adequados em português para refletir, ao mesmo tempo, a vivacidade e a erudição tão características da escrita do autor, assim como compreender o grande número de áreas de conhecimento que ele aborda, foram os dois outros obstáculos.

“Eu diria que é uma obra para a qual o tradutor nunca está suficientemente preparado. Você encara a tradução com o conhecimento prévio que o tradutor precisa ter, sobre o autor, sobre as línguas e sobre a tradução, e se reinventa durante todo o trajeto, mergulhando nas diversas áreas para tentar dar conta minimamente do recado”, conta Cardozo, que já traduziu os autores Theodor Storm, Heinrich Heine e E.E.Cummings – tendo sido finalista do Prêmio Jabuti em 2008 pela tradução deste último.

Prêmios

Até 2017, professores de Letras da UFPR já haviam recebido pelo menos nove prêmios de tradução. Saiba mais aqui.

Veja o vídeo da premiação

Conheça alguns professores-tradutores e como surgiu o tema nos cursos de Letras da UFPR