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Alunos migrantes e refugiados participam de rodas de leitura para aprimorar conhecimentos sobre o Brasil

Neste semestre, alunos migrantes e refugiados da UFPR matriculados na disciplina Práticas Textuais participam de rodas de leitura com o escritor e jornalista José Castello. Os encontros que começaram em agosto e seguem até o final de setembro são promovidos por meio de uma parceria entre a Cátedra Sérgio Vieira de Mello na UFPR e o Litercultura.

Um dos objetivos da atividade é possibilitar aos estudantes o aprimoramento de conhecimentos das línguas e culturas do Brasil.  Na dinâmica das rodas, o mediador escolhe um texto para cada encontro e os participantes fazem a leitura em conjunto, por partes. Na sequência, seguem com a discussão sobre o texto e compartilham impressões, curiosidades e outros aspectos sobre o conteúdo. 

José Castello optou por trabalhar obras de Rubem Braga nas rodas, considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX. “Escolhi o Braga porque é um grande escritor e por causa da crônica, porque é um gênero mais coloquial, tem mais a ver com conversa. É um gênero que se torna mais compreensível, abre mais acesso para pessoas, como os alunos, que não tem um domínio muito grande da língua”, explica.

O crítico literário destaca que o autor é um retratista do Brasil e do Rio de Janeiro de sua época. “Sem dúvida, está ajudando eles a entenderem um pouco mais sobre o que é Brasil. Isso tudo ajuda muito na adaptação, além de contribuir com a integração com a língua portuguesa. O balanço é muito positivo. Sinto que os alunos estão muito empolgados. Vejo eles chegarem com as cópias das crônicas que a gente distribui na semana anterior anotadas”, afirma. Os alunos já demonstram interesse em escrever crônicas, comenta o jornalista, que procura ler devagar, de forma pausada, explicando as palavras mais difíceis e apresentando sinônimos.

O convite para entrar no mundo do autor, compreender seu pensamento e buscar identificar a provável mensagem ao leitor encanta Zoraida Carolina del Valle Rivas Ojeda. “Acho a roda muito interessante porque nos ajuda a entrar na literatura brasileira. Com as crônicas de Rubem Braga, nós estamos aprendendo que ela mistura o jornalismo e a literatura, sendo considerada como o gênero do ‘eu’. Pela característica, o autor faz parte da trama. Além disso, penso que Braga tem uma forma diferente, harmoniosa e espontânea de contar os acontecimentos”, destaca. A estudante de 34 anos está no segundo período do curso de Engenharia Industrial Madeireira da UFPR.

Roda de leitura realizada com o grupo no Prédio Histórico da UFPR na tarde do dia 10 de setembro. Foto: André Filgueira / Sucom – UFPR

As diferentes opiniões e pontos de vista para interpretar as leituras chamam sua atenção durante as rodas. “Cada pessoa aporta algo diferente na aula e senhor Castello também nos conta sobre outros fatos acontecidos ao autor e como era a vida dele, o que é muito relevante porque nos ajudar a entender o pensamento do escritor e o que ele quer dizer sobre algum tema”, complementa Zoraida.

Participam 18 alunos de oito países – Benim, Haiti, República Democrática do Congo, República do Congo, Venezuela, Síria, Guiné Bissau e Peru. Ao todo, serão sete encontros, realizados às terças ou quartas-feiras à tarde no Prédio Histórico e no prédio da Reitoria.  “A importância da ação, no ponto de vista da disciplina, é ter acesso a textos literários que dialogam com a realidade do nosso país, ampliando o repertório dos alunos, descobrindo outros gêneros textuais e estimulando a leitura em português”, observa a professora do Departamento de Polonês, Alemão e Letras Clássicas (Depac), Bruna Ruano. A docente leciona duas disciplinas para o grupo de alunos que ingressou na UFPR no início de 2019 e coordena as rodas na UFPR.

A Cátedra Sérgio Vieira de Mello na UFPR atua por meio do Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (Pmub). “O curso de Letras e as aulas de português humanitário como língua de acolhimento e a disciplina de português acadêmico, desde o início, há seis anos, vem trabalhando com a perspectiva da literatura. A literatura dos países da onde as pessoas vêm e colocando os estudantes estrangeiros refugiados e migrantes em contato com a nossa literatura”, diz professor do Departamento de Direito Civil e Processual Civil e um dos coordenadores da cátedra e do Pmub na UFPR, José Antonio Peres Gediel. 

Litercultura

A edição 2019 do Festival Literário foi realizada de 12 a 16 de agosto em Curitiba, na Capela Santa Maria, com o tema “Fronteiras”. “Fomos conversar com o pessoal da UFPR porque sabíamos que tinham um trabalho com imigrantes que envolviam cultura, arte e subjetividades. Queríamos que eles nos orientassem e assim foi feita a parceria”, afirma a idealizadora e diretora do Litercultura, Manoela Leão. “Os alunos participaram do Festival com o nosso projeto Literatura de Refúgio e Música Síria”, conta Bruna.

As rodas de leitura fazem parte do projeto do Litercultura. “O que a gente está fazendo é que o Festival não se encerre nos dias em que ele existe – são cinco dias. Vai encerrar com esse bloco de rodas de leitura agora, mas começou desde maio. A gente tem um Festival que acontece não para um grande público, mas acontece de forma mais ativa no que diz respeito ao incentivo à leitura. Essa é a proposta” finaliza Manoela.