“Nos últimos 25 anos da minha vida, tive oito endereços, mas só uma casa. Por isso é absurdamente comovente ver no mesmo lugar tanta gente que ajudou a transformar a minha vida neste ultimo quarto de século”. Assim, depois de ser convocado a discursar pelos colegas, o professor Caetano Waldrigues Galindo, do Departamento de Literatura e Linguística, acabou oferecendo uma definição do Prêmio Mérito de Humanidades, entregue pela primeira vez na noite desta quarta-feira (28), em Curitiba. Criado neste ano pelo Setor de Ciências Humanas (SCH) da UFPR, que completa 80 anos, os certificados foram entregues a 11 professores e sete ex-servidores no Círculo de Estudos Bandeirantes.
O fato de os premiados terem sido indicados “por seus pares” — expressão usada pela professora Ligia Negri, diretora do SCH — foi destacado por vários homenageados como um fator extra de emoção. Afinal, dos professores, a maioria já conhecia o rito de uma homenagem do mundo acadêmico.
“Tive oportunidade de ser contemplada com prêmios nacionais. Entretanto, a homenagem que recebi dos meus colegas foi a mais emocionante”, afirma Marilene Weinhardt, professora sênior de Literatura Brasileira. “Há um dito popular sobre a dificuldade em ser herói para seu criado de quarto. Não estou me alçando à condição de heroína, mas o fato de ter sido considerada merecedora de distinção por pessoas do convívio diário por tanto tempo, foi muito surpreendente e gratificante”, conta.
“Sou avesso a homenagens, mas confesso que ser lembrado pelos colegas foi muito honroso”, conta Carlos Alberto Faraco, linguista que lecionou na UFPR até 1998 e foi dela reitor. “Vivi intensamente meu tempo de UFPR e fico feliz em saber que alguma coisa dessa vivência ficou na memória dos colegas”.
Na analogia de outro homenageado, José Guilherme Cantor Magnani, professor de Antropologia na Universidade de São Paulo (USP) que se formou na UFPR nos anos 70, colegas de aula e de profissão são “irmãos de barco”. Trata-se de uma referência às religiões afro-brasileiras, para as quais ficam para sempre no mesmo barco os iniciados na mesma cerimônia. “Mesmo que cada um vá para um canto, existe sempre um reencontro. Cada um faz suas escolhas, mas compartilhamos uma geração, as mesmas experiências”.
Gratidão
Além dos professores, sete servidores tiveram sua dedicação ao Humanas reconhecida por meio de uma categoria do Humanidades criada para os 80 anos do setor. Todos são servidores aposentados e foram indicados pelos departamentos onde trabalharam.
De acordo com Ana Maria Cristofolini, servidora aposentada em 2016 depois de atuar no SCH e no Jurídicas, a homenagem trouxe a sensação de “dever cumprido”. “Foi também uma ótima oportunidade de rever todos”, conta. Ela também agradeceu a iniciativa do setor de incluir os técnicos administrativos na premiação. “Creio que poucas vezes vi homenagens assim para servidores”.
O prêmio Mérito Humanidades estreou neste ano, mas a ideia do SCH é que a entrega ocorra a cada dois anos. Nesta primeira edição, os dez departamentos do Humanas receberam prazo para indicar nomes, apresentando dossiês para serem analisados por uma comissão julgadora.
Semana
A entrega da premiação foi precedida por uma performance do recital “Um Ricardo III”, baseado em Shakespeare, com produção de Dimas Bueno, que estreia em 10 de março no Espaço Cultural Falec.
A cerimônia e as atrações integram a programação da Semana Comemorativa dos 80 anos do Humamas, que terá encerramento nesta segunda. Nesta quinta (1.º/3), haverá um festival gastronômico e de música no pátio da Reitoria.
As demais atrações da semana podem ser conferidas no site da Memória do SCH e aqui. Há ainda mesas redondas e oficinas. As apresentações culturais da Semana Comemorativa dos 80 anos do SCH têm apoio artístico da Cultura Inglesa de Curitiba.
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