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FEDERAL DO PARANÁ

Relatório de pesquisadores do Cenacid aponta recomendações para conter impactos em Brumadinho (MG) e evitar novas tragédias

Profissionais do Centro de Apoio Científico em Desastres (CENACID), vinculado à Universidade Federal do Paraná, concluíram o primeiro relatório da missão realizada no município Brumadinho (MG). O grupo esteve no local do desastre causado pelo rompimento da barragem e auxiliou com informações científicas as equipes de resgate entre os dias 28 e 31 de janeiro.

O material apresenta a análise da situação na área, impactos e 16 recomendações, que vão desde questões específicas sobre a tragédia até sugestões mais amplas, relacionadas a revisão das normas brasileiras de segurança em barragens. “A UFPR tem tradição e expertise para contribuir nesses momento em que a sociedade mais precisa de conhecimento científico”, afirma o líder da missão e coordenador do Cenacid, professor Renato Lima.

No relatório, os pesquisadores do Cenacid definem a causa do acidente como antropogênica – causada pelo homem – já que não foi identificada a ocorrência de fenômenos naturais que pudessem deflagrar a ruptura da barragem. Também foi analisada a possibilidade de sismo na região. “Fizemos a verificação, com apoio dos dados do centro de sismologia da USP, e não ficou demonstrada a ocorrência de sismo. Pelo contrário, o rompimento da barragem gerou um sismo, que ficou registrado nos sismógrafos próximos, com duração de aproximadamente cinco minutos”, relata Lima.

Membros do Cenacid, professor Renato Lima e professor Jefferson Picanço. Divulgação: Cenacid – UFPR

Recomendações

Entre as recomendações, está o uso de medidas de proteção das margens dos rios, associadas à retenção de sedimentos finos em obstáculos e contenções neste primeiro momento. De acordo com o relatório, a implantação imediata de um sistema de contenção de sedimentos na Foz do Córrego Feijão reduziria os impactos ao longo da bacia do Rio Paraopeba.

O pesquisador Renato Lima explica que a turbidez e dispersão dos sedimentos finos no rio preocupam com relação ao tratamento da água. “A enorme quantidade de lama deixa a água avermelhada, cor típica de rejeitos de ferro, que pode ser transportadas a longas distâncias. Em grande quantidade elas não permitem o tratamento de água”. O relatório também destaca que esta pluma de dispersão provoca impactos na biodiversidade, interferindo na evolução do sistema natural da região.

O Cenacid recomenda, entre as ações futuras, o estudo e a análise da obrigatoriedade da implantação de defensas em locais estratégicos, para barragens a partir de determinado volume, para desvio de fluxo em caso de rompimento.

“Uma defensa poderia, por exemplo, ter protegido ou reduzido as consequências em ao menos parte da área das oficinas e ferrovia, ou do Parque das Cachoeiras, reduzindo o número de vítimas. As imagens das câmeras de segurança mostram que os fluxos de rejeitos desviam das pilhas de minério; a própria colocação adequada desse material poderia servir como defensa para proteção de algumas áreas”, avalia Lima. “Nossa sugestão é incluir essa ação a partir de barragens com determinado volume, para a preservação de patrimônio e segurança da vida”.

Os pesquisadores sugerem, ainda, a reutilização de resíduos e escombros, conforme a possibilidade. “Isso será transformado em lixo e irá para o aterro sanitário, gerando alto custo para retirada e depósito, além do impacto ambiental. Boa parte do material pode ser reutilizado. O Cenacid propôs isso no município de Rio do Sul (SC), após uma inundação, e teve resultado positivo com 25% de redução do resíduo”, conta.

Lima destaca que as ações devem ser pensadas para evitar novas tragédias. “Estamos fazendo as recomendações como contribuição. Os governos e o Congresso têm que se dedicar a esse tema, avaliar estas e outras propostas, e buscar adequar as sugestões às possibilidades de implantação em normas e regulamentos das recomendações apresentadas”.

O relatório completo está disponível no site do Cenacid.

Entrega do relatório

A equipe do Cenacid entregou o relatório da missão ao reitor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Marcelo Fonseca. “Essa tragédia necessita de diagnósticos e pesquisas que só podem ser feitas cientificamente. A UFPR, por meio do Cenacid, fez isso do ponto de vista interdisciplinar, de uma perspectiva desinteressada e confiável”, afirmou Fonseca.

Professor Ricardo Lima apresenta relatório da missão ao reitor Ricardo Marcelo. Foto: Marcos Solivan

O reitor parabenizou os pesquisadores e destacou a relevância do papel da universidade em momentos como esse. “É um exemplo de como a universidade pública, por ser pública e capacitada como nenhuma outra esfera do ponto de vista científico do país, traz soluções a problemas”.

Missão

O grupo recolheu sete amostras de lama e água intersticial em diferentes pontos do local da tragédia. O material coletado está sendo analisado em laboratórios da UFPR.

Os pesquisadores pretendem retornar a Brumadinho para avançar nos estudos do comportamento interno do fluxo de lama e coleta de novas amostras para estudos analíticos.

Participaram da missão o professor da UFPR, Renato Lima; o professor da Unicamp, Jefferson Picanço; a geóloga da Coordenadoria de Proteção e Defesa Civil do Paraná, Fabiane Acordes; e a diretora do serviço geológico do Rio de Janeiro, Aline Freitas.

O grupo também elaborou mapas de capacidade destrutiva do fluxo de rejeito e lama e das direções internas de fluxo, com base nas avaliações realizadas em campo. “Os mapas são úteis para orientar as buscas e para compreender todo o processo. No futuro, servirão para prevenir tragédias como esta”, avalia Lima.

O material foi enviado ao Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, e para a Coordenação Estadual de Proteção e Defesa Civil de Minas Gerais (CEDEC-MG). Também foram entregues, no quinto dia após o desastre em Brumadinho, para oficiais do Corpo de Bombeiros e representantes da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.

Cenacid

O Centro de Apoio Científico em Desastres é uma unidade especial da UFPR, com o objetivo de proporcionar apoio científico e técnico à comunidade em situações de emergência, assim como gerar propostas de ações.

Pesquisadores e especialistas de diversas áreas da UFPR e de outras instituições de pesquisa do Brasil participam. Os profissionais podem ser acionados em situações de emergência e oferecem a contribuição científica em caso de desastres.

Com experiências em desastres em todo o mundo, o coordenador do Cenacid e professor da UFPR, Renato Lima, integra a equipe UNDAC (Coordenação e Avaliação de Desastres da ONU) e atua como consultor da ONU para desastres. O docente já integrou a equipe de coordenação da resposta internacional em mais de dez grandes desastres mundiais, como terremotos, deslizamentos, furacões, tsunamis e inundações.

Em 2009, o Centro foi premiado pela ONU – Organização das Nações Unidas – como reconhecimento pela excelência na atuação, prevenção, resposta e redução de consequências de desastres naturais, ambientais e tecnológicos.

Divulgação: Cenacid – UFPR

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