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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Programa da UFPR ajuda migrantes, refugiados e apátridas a superarem desafios encontrados no Brasil

Turma de haitianos de 2015. Foto: Brunno Covello

Refugiados, migrantes e apátridas de diversos países têm encontrado na Universidade Federal do Paraná o acolhimento e o apoio de que precisam para reconstruir suas histórias no Brasil. Nascido de um projeto criado em 2013 para dar aulas de Português a refugiados, o Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB) é hoje um conjunto de seis projetos de extensão que, além do ensino da língua, inclui capacitação em informática, apoio jurídico e até oficinas de História do Brasil, entre outras iniciativas.

O programa envolve os cursos de Direito, Informática, Psicologia, Sociologia, Letras e seu Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin/Tandem) e o Programa de Educação Tutorial (PET) História. Nele atuam professores, servidores, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação, que, além de acolher e apoiar refugiados e migrantes, desenvolvem pesquisas na área.

O PMUB contempla seis projetos de extensão: Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH); Refúgio, Migrações e Hospitalidade; Capacitação em Informática para Imigrantes; Migração e Processos de Subjetivação; Migrantes no Paraná. Preconceito, Integração e Capital de Mobilidade; Oficina de História do Brasil para Estrangeiros.

A proposta chegou à universidade por meio de órgãos públicos que eram procurados por migrantes e refugiados em busca de soluções para problemas do dia a dia na nova vida. A primeira iniciativa foi a criação do projeto Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH), organizado por integrantes do Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin). O projeto começou pequeno, mas logo a procura aumentou, principalmente de haitianos e sírios – que acabavam levando para os professores de Português questões relacionadas a documentos, assuntos trabalhistas, entre outros. Foi assim que o curso de Direito se envolveu na iniciativa e criou o projeto Refúgio, Migração e Hospitalidade, para dar assistência jurídica a esse público.

O Desenvolvimento de Cursos de Capacitação em Informática para Imigrantes veio logo depois, para suprir a necessidade dos alunos de elaborar e enviar currículos e acessar a internet. A partir da junção desses três cursos, foi criado o Programa de Extensão PMUB, que em seguida atraiu os cursos de Psicologia, História e Sociologia

De acordo com a vice-coordenadora do programa, Tatyana Friedrich, os envolvidos perceberam que a universidade poderia oferecer muito mais do que apenas aulas e assistência jurídica, integrando diferentes áreas da instituição. “Conseguimos duas resoluções para o ingresso de alunos já graduados que desejam continuar os estudos e para o processo de revalidação de diploma. Além disso, trabalhamos em convênio com outras associações que atendem esse público em Curitiba. Atuamos, ainda, junto à Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)”, conta.

Origens

A UFPR recebe pessoas de diversas partes do mundo, porém a maioria delas provém do Haiti, Síria e países africanos como República Democrática do Congo, Angola e Benim, além dos latino-americanos. “A ideia é usar a hospitalidade – conceito filosófico que trazemos para o mundo jurídico – para receber e acolher essas pessoas, ajudando a torná-las sujeitos de sua própria história. Somos uma universidade pública e essa é uma realidade que está posta em nossa frente, não podemos fechar os olhos”, afirma Tatyana.

O haitiano Teuvenot Elisias está no Brasil há três anos, com visto humanitário. Ao chegar, não sabia uma única palavra em Português. Hoje, cursa o terceiro ano de Direito na UFPR, no qual ingressou com o auxílio do PMUB. “O meu objetivo é fazer pós-graduação, mas também disseminar esse aprendizado. Quando você tem um conhecimento e não dispõe dele para ajudar outras pessoas, é como se você não soubesse nada. Pretendo usar a instrução que eu adquirir aqui para ajudar tanto a população do Brasil quanto a do Haiti”, conta.

Elisias concilia o curso de Direito com a atividade como intérprete de português-francês no Celin. “Eu tive ajuda desses projetos quando cheguei aqui no Brasil e agora ajudo outras pessoas”, orgulha-se.

Elie Kabongo é da República Democrática do Congo e cursa Gestão da Informação. Foto: Marcos Solivan/ Sucom UFPR

A história do congolês Elie Kabongo com o Brasil começou de forma diferente. Ele deixou a República Democrática do Congo para fugir da instabilidade política e da insegurança que sentia ao participar de protestos nas ruas do país. “Aqui a população vai às ruas manifestar contra os políticos. A democracia no meu país está só na teoria. Não há liberdade de expressão”, comenta. Kabongo – que no Congo cursava Comércio Exterior – é aluno de Gestão da Informação na UFPR e trabalha como porteiro no Celin.

Segundo ele, a questão financeira foi a maior dificuldade no início de sua jornada em Curitiba. O estudante conta que chegou a chorar muitas vezes devido à falta de dinheiro: “Eu vivia com amigos congoleses que me sustentavam, pois recebiam ajuda dos pais. Eu já cheguei a passar meses sem ao menos dez reais”.

A língua foi outro obstáculo quando o congolês chegou ao País, em janeiro de 2015. “Era muito difícil até mesmo ir ao mercado comprar algo. Sempre era necessário ter uma pessoa que fosse capaz de traduzir. Convívio social e fazer amizades é outro problema quando não se fala a língua nativa”, revela.

Ao iniciar os estudos da língua portuguesa ele superou essa barreira. Kabongo é grato principalmente ao Núcleo Tandem do Celin, que, além do conhecimento da língua portuguesa, deu a ele a oportunidade de fazer amigos. O núcleo tem o nome inspirado nas bicicletas Tandem, usadas simultaneamente por duas pessoas que pedalam rumo a um destino comum. Assim, o programa junta pares de estudantes que queiram aprimorar seus conhecimentos em duas línguas distintas. Eles se encontram com frequência para praticar. “Eu fazia essa permuta com uma brasileira que queria aprender francês. Ela me convidada para visitar sua casa e sua família me ajudava e aconselhava. A partir daí consegui me expressar melhor e compartilhar minha cultura”, conta o congolês, que agora sonha em terminar a graduação e fazer uma especialização.

Projeto favorece inserção de estrangeiros na vida social

O projeto Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH), do Celin, foi o embrião do PMUB, e ainda hoje é a porta de entrada para muitos estrangeiros com visto humanitário, migrantes e refugiados que desconhecem os demais serviços de apoio oferecidos pela UFPR.

De acordo com a coordenadora, Viviane Pereira, o projeto oferece um instrumento para inserção na vida social. “O que falta a eles, em primeiro lugar, é a língua. O PBMIH tenta suprir essa necessidade inicial, para que seja possível procurar emprego, alugar uma casa, reconstruir sua vida e se integrar à sociedade”, explica.

Alunos de uma das turmas de acolhimento de 2017. Foto: Marcos Solivan/ Sucom UFPR.

Os alunos passam por um teste de nivelamento antes de serem encaminhados para turmas do nível mais adequado. Os haitianos encontram-se aos sábados, enquanto outros estrangeiros são recebidos nas chamadas “turmas de acolhimento”, que reúnem sírios, cubanos, congoleses, venezuelanos, paquistaneses, nigerianos, entre outros.

No projeto atuam professores do curso de Letras e do curso de Português do Celin, além de alunos de graduação e pós-graduação em Letras. Os professores acumulam inúmeras histórias – como a de uma família de haitianos que, sem dinheiro para custear as passagens de ônibus para todos, enviava a filha mais nova para aprender Português e depois ensinar aos demais.

Os cursos do PBMIH são gratuitos e os alunos não precisam ter vínculo com a universidade para participar. “No geral é esse público sem vínculo que atendemos, pessoas que, muitas vezes, não terminaram o ensino primário em seu país. Mas há também opções para alunos que já estão inseridos na UFPR”, informa a coordenadora. Atualmente o Celin conta com um corpo docente de 36 pessoas para esse projeto.

Núcleo Tandem

O Núcleo Tandem – que faz parte do Celin e do PBMIH – é o lugar de acolhimento do estrangeiro. “Recebemos estrangeiros que são alunos da universidade, estrangeiros que não são alunos, imigrantes, refugiados, etc. Caso eles tenham qualquer problema, é o Núcleo Tandem que devem procurar.”, explica a assistente de coordenação do projeto, Bruna Martins.

O trabalho no Tandem começa com um encontro guiado entre os dois estudantes que pretendem realizar a troca de línguas e culturas. A partir daí eles decidem quando e com que frequência querem se encontrar. “É uma experiência muito rica para os dois participantes, pois permite não apenas uma troca linguística, mas também social e cultural”, diz Bruna.

Essa é a ideia da extensão: a troca de experiências. Muitas vezes as pessoas vêm participar como voluntárias achando que estão fazendo uma boa ação, mas não têm a dimensão do quanto serão transformadas também”, afirma Viviane. “Para os estrangeiros, o principal ganho é a inserção. Dominar minimamente um idioma que permita a comunicação resulta em ser capaz de pedir informações, conseguir emprego, poder, por meio desse emprego, ter moradia e alimentar sua família. É o mínimo que podemos esperar como dignidade para o ser humano.”

Outro migrante haitiano – que prefere não se identificar – também estuda Direito na UFPR e já está no Brasil desde 2013. Ele já realizou todos os níveis do curso de português e, atualmente, está estudando na graduação. Seu sonho é terminar o curso e realizar um mestrado em Relações Internacionais, para assim poder contribuir no desenvolvimento de seu país. “Meu objetivo era sair do Haiti para estudar mais e voltar podendo ser alguém útil à minha população. Eu entendo que não é necessário ser senador, deputado ou presidente para participar do progresso do país, esse é um trabalho de cada cidadão e, como cidadão, quero fazer a minha parte”, declara.

Anas Alnashawati é sírio e está no Brasil desde 2015. Foto: Marcos Solivan/ Sucom UFPR.

O sírio Anas Alnashawati é formado em Economia em seu país, mas veio para cá em busca de uma nova vida. Alnashawati já tem familiares morando em Curitiba e decidiu, em 2015, juntar-se a eles em busca de seu sonho. Apesar de seus parentes viverem aqui há bastante tempo, ele chegou ao País sem saber falar português e, por isso, recorreu ao Celin e ao PBMIH. “Primeiramente aprendi um pouco da língua com meu primo, no trabalho, em casa e na internet. Mas senti necessidade de melhorar, pois no trabalho tenho sempre o mesmo tipo de conversa e no projeto conheço novas palavras”, conta. Ele trabalha como vendedor em uma loja de roupas e deseja continuar no Brasil para trabalhar e constituir família.

Além de mudar a vida de inúmeras pessoas, o PMUB transforma o modo de pensar dos voluntários e envolvidos e cria uma cultura de ações afirmativas na sociedade. “É um projeto político, na medida em que promove uma mudança de chave de pensamento. Nesse sentido, é algo que promove crescimento docente e pessoal”, afirma Viviane.

Esse projeto ajuda a emancipar o migrante e o refugiado, mas também mostra a prática da cidadania aos alunos e voluntários. Isso é realmente a extensão: trazer o conhecimento para a realidade e construir junto com os envolvidos uma nova forma de pensar”, explica Tatyana.

Para saber mais a respeito do PMUB e seus projetos complementares, acesse o site do programa

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