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Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável realiza 1ª defesa de mestrado de estudante com deficiência visual

O Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável (PPGDTS) realizou, hoje (dia 21), a primeira defesa de dissertação de um estudante com deficiência visual.

Vandro Feretti foi orientado pelo professor Ivan Jairo Junkers, cujo foco de pesquisas é a Análise de Redes Sociais e a Ciência Política. Para ele, orientar o estudante foi um grande aprendizado. “Foi um orientando daqueles que vale a pena ensinar. Afinal, o melhor de ensinar é aprender, quando não aprendemos ao ensinar a carreira docente vira um tédio”, afirma.

Ivan relata que na Análise de Redes Sociais muitos estudantes têm dificuldades de perceber que os círculos e linhas coloridas nada mais são que uma expressão visual de um conjunto de relações matemáticas. “Vandro superou muitos desses estudantes ao entender bastante rapidamente essa transposição da Matemática para as linhas e cores. Ele se dedicou bastante para trabalhar com redes através das planilhas e conseguiu”, salienta.

Para viabilizar o trabalho de Vandro, os círculos e linhas das redes impressas foram marcadas com caneta esferográfica, de forma que ele pudesse “ler e ver” com os dedos.

Confira a entrevista na qual Vandro conta um pouco de sua trajetória e a experiência com o mestrado.

Por que escolheu o PPGDTS para fazer o mestrado?

Acredito nos estudos que valorizam a diversidade da fauna e da flora, das sociedades e comunidades menos expressivas e que buscam sua continuidade. O segundo motivo é que vivo redes: redes sociais, de trabalho, familiar, de política eleitoral e o PPGDTS oferece uma linha de pesquisa exatamente neste campo: Redes, Poder e Território.

Sua trajetória profissional na área de Educação contribuiu de que forma no processo de estudo e pesquisa?

Tenho duas licenciaturas. Sou professor de Português e de Inglês. Somo ainda meu bacharelado em Informática. Respiro a vontade do saber. No caminho do estudo e da Educação que se volta à própria autoinstrução filosófica, reflexiva, pretendo entender um pouco mais meu papel no mundo. Acredito que a Educação liberta as amarras da própria ignorância. Não me torna melhor, ou pior; só me muda constantemente.

Como se deu a escolha do tema de pesquisa?

Foi engraçado. Perguntei ao meu professor: do que o senhor entende? Ele disse: entendo de redes. E você? Respondi: gosto de Inglês. Acontece que a maioria dos estudos que utilizam ARS são em língua inglesa e a maioria dos pesquisadores iniciantes (especialmente de iniciação científica e mestrandos) apresentam dificuldades para a leitura em inglês. O trabalho que realizei visa proporcionar ao grupo de pesquisas e aos pesquisadores brasileiros um recurso para o mapeamento e identificação das principais comunidades temáticas e, portanto, de leitura e referência nessa área de estudos e investigações.

Quais os principais desafios que enfrentou no processo de elaborar a dissertação?

O maior desafio foi abstrair o que é uma rede. Com criatividade, meu orientador desenhou fortemente em uma folha de papel a rede. Viramos a folha e pude ver com as mãos e então abstraí a realidade visual. Quanto aos cálculos, consigo ver as relações de rede em planilhas do Excel, que organizo segundo minha intenção; por autores, palavras-chave, grau central, periférico e outros. Penso que as dificuldades sempre virão. As soluções para diferentes pessoas são as mais diversas. Para mim, quanto às resoluções das problemáticas, como alternativas, depois das relações sociais, surge o computador e seus softwares.

O que mais lhe chamou atenção nos resultados encontrados?

Na pesquisa, conseguimos observar 16 grandes grupos temáticos em Ciência Política que utilizam a análise de redes sociais em seus trabalhos. Dentre todos os dados observados, um dos mais interessantes foi descobrir que o autor que mais publicou artigos em Inglês não é inglês ou norte-americano; foi o chinês Xun Cao. Hilário, não? Pode ser pelo fato de a China patrocinar grandes pesquisas nas universidades norte-americanas, inglesas e anglo-saxônicas. O que pode importar ao patrocinador lugares nestas academias na produção destas pesquisas.

Você teve o suporte institucional necessário para suprir suas necessidades durante o curso?

Acredito que todos os professores do Setor Litoral da Universidade Federal são o máximo. Fiz a graduação em Informática e Cidadania e tive excelentes professores e um orientador incrível: o professor Almir Carlos Andrade. No mestrado, fui afortunado com a orientação do professor Ivan Jairo Junckes. Diria que é um dos mais sábios quando se trata de ofertar acessibilidade e recursos audiovisuais. Quando eu não entendia, questionava, replicava e voltava a indagar, buscando ir além do que a academia e os professores me ofertavam. O mestrado me trouxe a capacidade de pesquisar. Sou um aluno que aprendeu um método de pesquisa em um campo específico. Agradeço o professor Neilor de Camargo pela ajuda com os dados iniciais, ao professor Augusto Clemente pelas orientações e seus estudos em cidadania, e à coordenadora do PPGDTS, Liliane Tiepolo, pela disponibilidade das vagas em relação às quais a “saudabilidade” física, motora, visual, intelectual, racial, e outros não é uma opção de vida sim uma condição empírica e notória. Obrigado a todos os professoras e pessoas que fizeram e fazem parte desta minha vida em busca do que seja educação, em especial ao professor Ivan Jairo Junckes.

Que dicas e sugestões você dá para outras pessoas deficientes que pretendem seguir a carreira acadêmica?

Que se inscrevam na UFPR. Que busquem fugir do sossego do sofá e da TV. Que saiam para rua, caiam em bueiros, se batam, e se cuidem com os carros em movimento, pois eles podem machucar. É necessário enfrentar o mundo com todas as forças que vocês tiverem. O mundo não nos dá nada a não ser a oportunidade de se fazer a vida. Aquele que espera paciente irá esperar por muito tempo. Dedique-se. Não espere que o outro lhe faça algo. Faça o que puder por si mesmo. Quem sabe, ao longo do tempo, os outros comecem a lhe observar com outros olhos e você passe a ser taxado como um ‘eficiente sem visão’, ou um ‘eficiente físico’, ou até mesmo um ‘eficiente mental’.

Texto: Aline Gonçalves.

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