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FEDERAL DO PARANÁ

Pesquisa indica que pós-graduações stricto sensu da UFPR refletem desigualdade racial da educação

Ao trazer dados inéditos sobre o perfil étnico-racial de alunos e professores dos programas de pós-graduação stricto sensu da UFPR, uma pesquisa de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), apresentada nesta quarta-feira (14), sugere que esse nível de ensino repete o quadro de desigualdade na educação. A pesquisa, que se baseou em perfis com vínculo ativo no Sistema de Gestão Acadêmica (Siga) da UFPR em 30 de outubro do ano passado, registrou que apenas 2,9% dos professores e 11,4% dos alunos são pretos ou pardos. Para comparação, segundo a PNAD Contínua 2016, do IBGE, cerca de 30% da população do Paraná e 55% da brasileira se considera preta ou parda.

O estudo mostra, por exemplo, que, dos então 2.896 doutorandos, 10,4% eram pretos ou pardos. Dos 53 programas de doutorado da UFPR, seis (ou seja, 11%) não tinham alunos pretos ou pardos.

Ana Christina Vanali: “Os números mostram que existem barreiras na passagem da graduação para a pós”. Fotos: Samira Chami Neves/Sucom-UFPR

O mesmo ocorria em seis mestrados acadêmicos (entre 72) e três mestrados profissionais (são 11 no total). Entre os 3.875 discentes de mestrado acadêmico, 473 se declararam pretos ou pardos (12,2%). Nos mestrados profissionais, eram 51 de um total de 526 (9,68%).

Barreira

A pesquisadora e professora Ana Vanali, autora do trabalho, registrou que um estudo publicado em 2010 verificou que, em 1988, 7% dos pós-graduandos stricto sensu no Brasil eram pretos ou pardos, percentual que aumentou para 20% em 2008.

Para Ana, os percentuais indicam que a pós-graduação stricto sensu se mostra um espaço com segregação maior do que a graduação, uma vez que, mesmo na UFPR, o percentual de alunos pretos e pardos é maior no grau mais básico do nível superior. “Existem barreiras na passagem da graduação para a pós stricto sensu”, avalia.

Docentes

Quanto ao perfil dos docentes, o estudo entre os 2.111 professores de programas stricto sensu na data, em torno de 20% eram também bolsistas de produtividade. Desses bolsistas, 3,6% se consideravam pretos ou pardos.

A pesquisa também avaliou a categoria dos professores de pós-graduação stricto sensu (permanente, colaborador e visitante). À época, a maioria se encaixava na condição de professor permanente (72%). Nessa categoria, 2,95% dos docentes se disseram pretos ou pardos (2,95%). Também nessa classificação estavam os dez únicos docentes pretos dos programas stricto sensu da universidade.

Imagens: Reprodução

Completando o cenário, 15 professores pardos eram classificados como colaboradores e não havia professores pretos ou pardos na condição de visitante.

Políticas afirmativas

A pesquisadora avalia que o recorte estatístico reforça a tese de que a desigualdade entre brancos e negros se aprofunda nos níveis mais altos de escolarização. “A fotografia dos programas stricto sensu na data dos dados mostrava um espaço de hegemonia branca, segregado e elitizado que reproduz o racismo na área educacional”.

Entre programas stricto sensu da UFPR, atualmente dois contam com políticas afirmativas para garantir certa diversidade étnico-racial. Um deles é o programa de Antropologia, em Curitiba, que adotou políticas a partir de 2016. O outro é o mestrado acadêmico em Desenvolvimento Territorial Sustentável, oferecido pelo Setor Litoral, que desde o primeiro processo seletivo, em 2013, reserva vagas prioritárias para pretos ou pardos, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas trans, professores da rede pública de educação e servidores da UFPR.

Segundo o estudo, universidades públicas criaram grupos de discussão sobre o assunto, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Uma delas, a Universidade Federal de Goiás (UFG), adotou política institucional em 2015. A maioria das citadas, porém, possui iniciativas próprias dos programas, como é o caso da UFPR.

Dados

A partir desses dados do Siga-UFPR, a pesquisadora sugeriu que outros recortes podem ser explorados em novas pesquisas sobre os programas stricto sensu. Um destaque diz respeito aos percentuais relativamente altos de cadastrados que optaram por não informar cor ou raça: em média, 14% dos alunos e 39% dos professores.

A pesquisadora ressaltou que a amostragem suficiente para o estudo, que procura mostrar uma fotografia da universidade em determinada data, só foi possível após uma campanha conscientizadora sobre a importância da autodeclaração. “Essa informação trata de pertencimento racial, de como a pessoa se identifica. Portanto é interessante saber por que esse percentual é significativo”.

Outras propostas de estudo passam por conhecer os índices de permanência dos alunos. “Para isso, outras ferramentas são necessárias”, salienta Ana.

A pesquisa contou com financiamento da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada ao Ministério dos Direitos Humanos, e faz parte do Projeto Afirmação na Pós, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da UFPR.

Leia o artigo científico embasado na pesquisa neste link