o bloco em meio ao caos
era carnaval.
ventava
árvores arrancadas
ao chão.
um bloco em meio ao caos.
e às três da madrugada
de um natal
(lembrança que cabe ao poema)
ouvi certa vez
uma banca de flores
(se fosse de jornal
seria uma rima
não uma verdade)
espraiar Edith Piaf
à chuva suspensa.
o céu como exemplo
vê o céu que se sustenta.
aprende, a cada dia
com o sol que gira, a não desabar.
desde aqui, ao rés do chão que piso
até o distante horizonte mar
como se aguenta, espraiado
sem se esfacelar?
poema do Iguaçu
a meus pés
uma das pontas
(afiadas pontas)
desses oito milhões de
quilômetros quadrados
e uma pretensa nação
desunificada.
o rio, com pás
submersas
amola e cega
ao mesmo tempo.
este rio incauto
prestes
a encachoeirar-se
(suicídio de placidez):
o Iguaçu.
e além do rio
argentina:
(tão verde)
espantada
como nós
em ver o rio
(Iguazu)
que não sabe
dessas nacionalidades.
pequena oração
perdoai-me, ó
ser de Perdão inconhecido
pois eu
-– pobre poeta! -–
não aprendi
a me deitar com o tempo
e esperar amanhãseres.
apenas
na fronteira do dia
onde a tarde se abisma
em puro púrpura
apenas
a mudez
(Poemas retirados de “Itinerários”, de Thássio Ferreira)
***
Canção da Diáspora
Meu terreiro tem gameleiras,
onde pousa Oxorongá.
As aves que aqui gorjeiam
são filhas do Apaoká,
esposas do dendezeiro,
herdeiras do Baobá.
Nem aves são: são luzeiro
no ventre escuro do igbá.
Em cismar à noite só,
encontro-as, Eleyé,
entre os seus galhos e escuto.
Gralham: Irôko Kissilé!
(Har)piam: Irôko Isô!
Prestam antigo tributo
de sangue, de seiva, de luto,
ao tronco tataravô.
(…)
(Trecho de poema de “Nverso”, de Thiago Hoshino)
***
Mentira cirúrgica
Na surdina
Noturnamente
Mãos no barro
Deus cria Eva
Mente
Que foi de
Costela
(Trecho de poema retirado de “Eva-proto-poeta”, de Adriane Garcia Pereira)