UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Incentivado pela União Internacional de Química, evento na UFPR expôs demandas das mulheres cientistas

A sala do Departamento de Química da UFPR, no Setor de Ciências Exatas, ficou pequena para o público do Café da Manhã com as Químicas da UFPR, realizado nesta terça-feira (12), em Curitiba, por incentivo da União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac). Pelo menos 120 pessoas compareceram para compartilhar questões referentes aos desafios e às oportunidades para inserção das mulheres no meio científico. O evento fez parte do programa Global Women’s Breakfast, da Iupac, que abrangeu, até esta quinta (14), cerca de 210 iniciativas no mundo todo.

Antes do debate, duas professores do departamento organizaram falas sobre a participação das mulheres na ciência no Brasil e na UFPR. Elisa Orth, que trouxe o panorama nacional, mostrou que as mulheres representam 57% dos graduados no ensino superior e metade dos doutores — os dados são de 2015, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD). Ainda assim, as mulheres cientistas têm salário menor, são minoria entre os professores universitários (ao contrário do que ocorre na educação básica) e representam 30% dos pesquisadores.

Cerca de 120 participantes compartilharam questões sobre ser mulher e cientista. Em frente ao quadro, as organizadoras (esq. para a dir.):professoras Elisa Orth e Camila Silveira; e pesquisadora Juliana Paula da Silva. Fotos: Daniel Patire/Divulgação

A percepção, disse Elisa, é de que o acesso das mulheres à graduação não se mantém à medida que elas decidem progredir na carreira de pesquisador. “Apesar de termos muitas mulheres se formando na universidade e outros indicadores positivos, ainda temos poucas mulheres chegando no topo da carreira e tendo posições mais altas”, analisa.

As ciências e as engenharias têm proporcionalmente mais homens do que mulheres — a razão é de três homens graduados para cada mulher. Para Elisa, nessas áreas do conhecimento a soma de baixa presença de mulheres em geral e em altos cargos da ciência cria uma tendência que se alimenta continuamente.

“Temos poucas referências de mulheres bem sucedidas para inspirar futuras gerações e pouca representação feminina em diversas esferas, como na política, nos altos cargos de agências de fomento ou, por exemplo, nas reitorias de universidades”.

Mãe cientista

A professora Camila Silveira, também do Departamento de Química, abordou em sua fala o impacto da maternidade para a carreira da mulher cientista, tendo em vista que a produtividade acadêmica é um critério importante para a trajetória do pesquisador.

O afastamento de no mínimo quatro meses que a licença-maternidade exige, por exemplo, pode impedir as pesquisadoras de alcançar os índices de produtividade necessários para ter acesso a fomento e bolsas. A questão tem sido chamada de “fator F” (de filhos).

As professoras Camila Silveira e Elisa Orth, do Departamento de Química

“Colocar a licença maternidade em pauta é uma grande questão para as pesquisadoras e esse assunto ainda é muito pouco discutido”, conta Camila.

Uma discussão, por exemplo, é se essa avaliação sobre produtividade acadêmica poderia ser relativizada caso a maternidade fosse incluída como informação nos currículo das pesquisadoras. Assim, esse período poderia ser desconsiderado, com base em uma escolha por regras afirmativas nas chamadas públicas.

Para Camila, essa opção, ainda pouco usada no Brasil, aparentemente tenderia a ser mais justa do que outras medidas, como o aumento da licença-paternidade, por exemplo. “A co-responsabilidade pela criação dos filhos ainda é muito desproporcional, além de existirem questões fisiológicas que impedem as mães recentes de retornar ao trabalho da mesma forma que os homens”.

A docente está à frente de um grupo que pesquisa as condições das pesquisadoras na UFPR. Em outubro, o grupo organizou uma exposição “Mulheres na Ciência” na Biblioteca Pública do Paraná.

Por conta disso, ela classifica o evento como uma importante oportunidade de fala para esse grupo social. “A participação nos surpreendeu, por ser época de recesso. Isso mostra que existe uma demanda reprimida para espaços de fala”.

Sobre o Global Women’s Breakfast

O programa da Iupac visa proporcionar uma rede de contato entre mulheres da Química, para multiplicar as possibilidades de discutir questões relacionadas às mulheres cientistas.

O evento é global e foi inaugurado na Nova Zelândia, para depois ser disseminado em instituições de ensino e pesquisa de países da Ásia, Europa, Africa e América.

Mais sobre o tema

Assista ao mini-documentário “Fator F”, produzido pelo grupo Gênero e Número com apoio do Instituto Serrapilheira, neste link