Em julho de 1917 um acontecimento marcou as profundas transformações que aconteciam na estrutura social brasileira no final dos anos 10. Operários de São Paulo cruzaram os braços e deflagraram uma greve geral que ganharia abrangência nacional e influenciaria os desdobramentos políticos e sociais das próximas décadas.
Para recordar o movimento, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) organizou o “Colóquio 1917: greve e experiências operárias” que entre os dias 12 e 14 de junho traz estudiosos para tratar do tema. Na conferência de abertura, o historiador Francisco Foot Hardman, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembrou da abrangência histórica do acontecimento daquele ano e traçou paralelos com a atualidade político-social brasileira, durante a Conferência de Abertura.
“Infelizmente, o Estado brasileiro nesses últimos tempos e pra ser exato, já que estamos no departamento de História, desde outubro de 2014, vem conhecendo uma restauração do poder oligárquico, poder que nunca deixou de existir no Brasil”, explicou o historiador, destacando que “lamentavelmente, suas características repressivas, contra direitos sociais, direitos trabalhistas e contra movimentos sociais, que foram tão características da chamada República Velha estão agora emergindo nos estertores da Nova República “.
Durante a palestra Hardmann destacou a importância do anarcossindicalismo e da imprensa operária na organização do movimento paredista. O professor também narrou algumas cenas sobre as barricadas erguidas em várias regiões da cidade e trocas de tiros com policiais que buscavam a repressão do movimento. O estopim deflagrador da greve foi o funeral do sapateiro José Martinez morto pela polícia durante um piquete de greve nas portas da fábrica Mariângela, no bairro do Brás, em São Paulo.
No período da tarde, a primeira mesa-redonda do evento lembrou dos desdobramentos do acontecimento no Paraná. Na ocasião o professor Luiz Carlos Ribeiro, do Departamento de História da UFPR, conta que a greve geral dos trabalhadores de 1917 mudou radicalmente a sociedade, o Estado e as organizações sindicais. “Foi um movimento muito significativo, que representou uma mudança importante na organização do movimento sindical e do próprio Estado brasileiro na conjuntura da crise que o Brasil vivia, no período”.
Ribeiro dividiu a mesa com o professor Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR, que – em parceira com o professor Mauricio Galeb – escreveu um livro sobre o tema: “A Greve Geral de 17 em Curitiba – Resgate da Memória Operária”.
A greve
Deflagrada pelo movimento sindical em dezenas de cidades brasileiras, inclusive em Curitiba, a greve de 1917 foi a primeira de abrangência nacional. Surgiu em São Paulo e teve a adesão de operários que protestavam contra a precarização das condições de relações de trabalho e exigiam direitos mínimos, em plena 1ª Guerra Mundial. “A greve mostrou o esgotamento do Liberalismo. A partir desta conjuntura, começa a criação de um Estado social, na década de 30, com políticas públicas voltadas às questões do trabalho e da Educação’, comentou Ribeiro.
Para o professor, embora tenha características bem distintas da greve geral promovida em 28 de abril deste ano, os dois movimentos se identificam em um ponto: “Em 1917, como hoje, havia um grande conflito de interesses entre os trabalhadores e o as empresas”. Ribeiro criticou a natureza e o modo como a reforma trabalhista está sendo conduzida. “Precisamos de reformas, mas sem perda de direitos dos trabalhadores. E isso deveria passar por uma discussão muito mais ampla”.
Reflexão
O professor Ricardo Marcelo Fonseca, que leciona História do Direito na Faculdade de Direito da UFPR, avaliou que o colóquio é fundamental para propiciar uma reflexão e um debate sobre um tema de grande importância não apenas para o movimento sindical, mas para a sociedade. “E não há nenhum lugar melhor para se fazer este debate com qualidade que na UFPR”, disse.
Na sua avaliação, o centenário da greve é uma ocasião importante para rememorar a história envolvendo os grevistas e para fazer paralelos com temas contemporâneos, como as perdas de direitos dos trabalhadores, as greves e conquistas do movimento sindical. “Esta sintonia que discute passado e presente demonstra a centralidade deste espaço da UFPR para os grandes temas contemporâneos”.
O “Colóquio 1917: greve e experiências operárias” inclui ainda uma extensa programação, na qual haverá conferências com pesquisadores ligados à história do movimento e da cultura operária e anarquista, mesas redondas, oficinas, exposições, atividades culturais e visitas mediadas às antigas associações operárias do Alto do São Francisco. O encontro é uma promoção é do Departamento de História da UFPR, com apoio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Fundação Araucária, Casa da Memória, PPGD e OAB.