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FEDERAL DO PARANÁ

Cortes de recursos federais afetam grupos de pesquisa da UFPR

Os cortes orçamentários feitos pelo governo federal estão afetando o andamento das pesquisas de vários grupos na Universidade Federal do Paraná. Desde o ano passado a União vem promovendo reduções nos repasses de recursos via editais de financiamento à pesquisa. Pesquisadores têm sido obrigados a custear com recursos próprios despesas com viagens e compra de insumos, por exemplo, além de suspender intercâmbios internacionais importantes para seus projetos.

“Até o momento, apesar de alguns atrasos nos repasses, não tivemos cortes nos programas institucionais, como o Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), da Capes, que custeia as bolsas de mestrado e doutorado, nem nas bolsas de iniciação científica do CNPq. Mas há uma redução expressiva nos repasses para projetos e laboratórios liderados por pesquisadores, individualmente, e custeados por meio de editais específicos”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Francisco de Assis Mendonça.

Os pesquisadores que foram selecionados para receber recursos por meio de chamadas públicas lançadas em 2015 e 2016 reclamam de atrasos nos repasses. “No ano passado o CNPq postergou a divulgação do resultado do edital universal porque não havia dinheiro. E, depois, depositou só 30% do valor aprovado para cada pesquisador”, afirma o professor Marcelo de Meira Santos Lima, coordenador do Laboratório de Neurofisiologia da UFPR.

Este ano, o CNPq sequer lançou a chamada universal – que abrange todas as áreas de conhecimento e é o edital mais importante de financiamento à pesquisa no País. Com isso, a falta de recursos tende a se agravar nos próximos meses.

O próprio pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor Mendonça, está entre os afetados pela crise. Integrante da elite de pesquisadores do País (é nível 1A no CNPq), ele teve corte de mais de 50% no projeto de pesquisa que lidera, no Departamento de Geografia. O projeto, que envolve pesquisadores de 10 capitais na análise de dados climáticos e socioambientais para determinar as condições para infestação pelo mosquito da dengue, não recebe recursos desde 2016. “Foram cortadas as quatro bolsas previstas para custear estágios de pesquisadores brasileiros nos Estados Unidos, o que nos permitiria avançar no processo de modelagem de cenários climáticos”, afirma. De acordo com ele, o projeto continua, mas com restrições.

No Departamento de Psicologia, o professor Bruno Angelo Strapasson ainda não recebeu nenhum centavo dos R$ 23 mil que teve aprovados no edital universal do CNPq em 2016. Os recursos são para um projeto de pesquisa de História da Psicologia, sob o ponto de vista do behaviorismo. “O dinheiro é basicamente para custear viagens para buscas em arquivos de universidades norte-americanas”, informa Strapasson, que apresentou o projeto em parceria com o professor Alexandre Dittrich.

Menos alunos

“Estamos fazendo o que é possível com o que temos de material em estoque e reduzindo o ingresso de alunos novos no programa de pesquisa”, afirma o professor Cláudio da Cunha, professor titular do Departamento de Farmacologia, pesquisador 1C do CNPq e coordenador do Laboratório de Fisiologia e Farmacologia do Sistema Nervoso Central.

Cunha dedica-se a pesquisas que utilizam modelos animais para averiguar o papel do neurotransmissor dopamina na doença de Parkinson, em processos de aprendizagem e memória e na dependência de drogas de abuso. No grupo que lidera, outros pesquisadores estudam alterações cognitivas e emocionais relacionadas com o diabetes, Alzheimer, depressão e mania. São pesquisas que podem contribuir para aperfeiçoar o diagnóstico dessas doenças e, por extensão, ampliar as chances de sucesso dos tratamentos. Mas os recursos são cada vez mais escassos.

“Este ano estávamos esperando R$ 120 mil de um convênio que mantemos com o Instituto Nacional de Neurociência Translacional, ligado ao CNPq, mas só recebemos R$ 26 mil. Isso ocorreu porque o CNPq cortou parte dos recursos aprovados. O CNPq também alegou falta de recursos para não contemplar nosso projeto no edital universal 2016, embora tenha reconhecido seu mérito científico”, afirma Cunha.

No ano passado ele também coordenou uma proposta para um edital específico sobre doenças neurodegenerativas, envolvendo pesquisadores de várias instituições do País. A proposta tinha valor próximo do teto estabelecido pelo CNPq, que era de R$ 1 milhão. Mas, no final, pressionado pela falta de recursos, o órgão acabou aprovando apenas as propostas cujo valor não ultrapassava R$ 300 mil, o que fez o projeto liderado por Cunha bater na trave.

Até dois anos atrás, o professor Cláudio Da Cunha orientava 14 alunos pesquisadores – entre bolsistas de iniciação científica, mestrandos e doutorandos. Este ano são apenas cinco. “Não podemos pegar mais alunos se não temos material suficiente para que todos façam experimentos práticos”, afirma ele.

Além disso, segundo ele, há o temor de que equipamentos do laboratório – cujo valor soma mais de R$ 1 milhão – estraguem e fiquem sem conserto por falta de recursos. Isso já acontece com um HPLC, que quantifica neurotransmissores em amostras de tecido nervoso, e atendia vários laboratórios e grupos de pesquisa da UFPR e de outras instituições. Danificado há quase dois anos, esse equipamento ainda aguarda algumas peças para ser  consertado.

Planejamento prejudicado

Outro laboratório da UFPR que também faz pesquisas relacionadas à doença de Parkinson passa por situações semelhantes. É o Laboratório de Neurofisiologia, que, entre outras frentes, estuda alterações não motoras decorrentes da doença – por exemplo, no olfato, no sono e na memória, além da depressão. “Basicamente, fazemos investigações fisiopatológicas para entender os mecanismos da doença e buscar ferramentas para o diagnóstico precoce”, afirma o professor Marcelo Lima, coordenador do grupo de pesquisa, que reúne 15 pesquisadores, entre mestrandos, doutorandos e bolsistas de iniciação científica.

No ano passado, o laboratório foi contemplado no edital universal do CNPq com R$ 40 mil dos R$ 55 mil que havia pedido. Até agora, recebeu apenas R$ 12 mil. Este ano, o edital não foi lançado. “Trabalhamos com projetos caros e precisamos de planejamento. Como vamos planejar a longo prazo se não sabemos sequer quando um edital vai sair?”, questiona Lima.

O professor diz que todos os meses tira uma parte do seu salário para comprar reagentes para o laboratório. Na semana passada, um aluno na fase final do doutorado custeou a própria viagem para São Paulo, onde foi realizar experimentos no Instituto do Sono.

“O resultado desses cortes é que estamos fazendo projetos muito mais modestos e, portanto, com menos impacto científico, do que gostaríamos de fazer”, lamenta Lima.

Desenvolvimento ameaçado

O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, lembra que o orçamento da União para 2017 teve uma redução de 44% na área da Ciência e Tecnologia, que agora tem o menor volume de recursos dos últimos doze anos. Para o reitor, classificar os recursos destinados para a área como meros gastos, e não como investimento, é um erro que ameaça o desenvolvimento brasileiro. “Um país que queira dar um verdadeiro salto de desenvolvimento econômico só conseguirá fazê-lo com pesados investimentos na educação superior, em ciência, tecnologia e inovação. Não há outra regra mágica”, afirma.

 

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